"PELO MENOS EU ESCREVO..."
PELO MENOS EU ESCREVO...
Tenho pensado muito em escrever, porém, não sei o quê e nem para quê. A única coisa que sei é um “nó” no peito que pede para traçar algumas linhas nem que me deixe levar pelo teclado do computador, digitando o que minha mente quiser sem olhar para trás para saber o que foi escrito.
Os últimos meses têm, particularmente, se tornados difíceis para a maioria das pessoas, tendo em vista tantas tragédias, casos de crimes policiais envolvendo crianças (pedofilia) que, às vezes penso que voltamos à Idade Média, onde pais e filhos se relacionavam, sexualmente para perpetrar a espécie, gerando netos dos pais e, assim, sucessivamente. Enfim, o incesto era praticado sem maiores pudores. Normal para aquela sociedade medieval.
Quanto tempo se passou e, pelo jeito nada mudou. Só que hoje se tem a consciência dos problemas médicos e até legais que tal fato acarreta, mas, parece que a sociedade não se importa e continua vivendo como se nada acontecesse ao redor. Nem leis específicas temos para esses tipos de crimes muito mais que hediondos, são nojentos, revoltantes. Filhos matam pais e, o contrário, também é recíproco, como se fosse algo natural seja por dinheiro seja por um “não” recebido. As drogas estão aí nas ruas das nossas casas e, ignoramos, passamos longe, fingindo nada estar acontecendo, exceto quando ela (a droga) atinge um dos nossos. Daí nos revolta, “esperneamos”, queremos tudo e todos à nossa disposição, porque fomos atingidos, diretamente por esse mal do século chamado entorpecente, não aquele usado pelos nossos ancestrais para infusões de chás ou pelos índios para curas, mas para matar nossos filhos, netos e, se não formos fortes o bastante para enfrentarmos as agruras da vida, até a nós mesmos ela nos “pegará”...
Qual a sensação de um pai que joga um filho de idade tenra pela janela de seu apartamento? Qual a sensação de uma mãe que enterra sua filha viva, apenas envolta em sacos plásticos para ser, lentamente morta? Como se sentem os pais ao acharem sua filha de nove anos, esquartejada e com sinais de violência sexual dentro de uma mala na Rodoviária? E, por aí vai...
Descobrimos que a vítima de um ex-namorado, refém e morta pelo mesmo sem dó nem piedade, aos quinze anos de idade é filha de um matador de um Estado distante onde esquartejou sua primeira mulher, pertencendo a um grupo de extermínio da polícia militar da região e, estava foragido há exatamente 15 anos. Isso mesmo, 15 anos. Sua filha morreu sem saber quem era o pai e, assisto à TV, onde, para meu espanto a mãe dessa menina fala mais do assassino da filha do que da sua perda e, aproveita o canal televisivo para pedir mantimentos, roupas e etc.
Ou os valores morais se inverteram ou enlouqueci e não entendo mais nenhuma reação das pessoas, como, quando, perguntado a uma mãe que perdera sua filha de quatro anos em circunstâncias bárbaras como ela se sentia, a mesma começa a sorrir e diz que a menina – não citarei nomes, não ia querer vê-la chorar e passados quatro dias de sua morte, essa mesma mãe comemora seu aniversário. Depois, percebe que a mídia não aceitou bem sua reação, como um passe de mágica, muda sua postura e passa a aparecer chorando em todos os locais públicos, não sem antes não se esquecer da maquiagem, dos brincos para ficar bem na imagem que vai agora passar a transmitir, a mãe que sofre...
Como já disse, anteriormente, ou estou louca porque vejo e percebo tudo isso acontecendo embaixo dos nossos olhos ou a sociedade já se acostumou com fatalidades sem explicações e reações diversas da esperada de determinado indivíduo frente às determinadas tragédias por ele acometidas.
Oras, eu perdi uma filha aos quatro anos de idade. Isso aconteceu há mais de vinte anos por motivos de um quadro de saúde irreversíveis onde ao médicos tudo tentaram fazer para que a Beta voltasse à vida, tendo em vista que a Roberta era uma criança especial e não suportou o Edema Cerebral em que foi acometida após uma convulsão. Até hoje choro sua perda como se fosse ontem. Minha ferida não cicatriza, apenas aprendi a conviver com ela (ferida). Meu pai faleceu há cinco anos, vítima de câncer hepático e, ainda me sinto sem “chão”, sentindo a falta dele todos os dias, todos os minutos. Eu estou errada ou a sociedade aprendeu a conviver com a dor e nada mais faz, além de aceitar e se resignar com cada ato bárbaro praticado por nossos semelhantes?
Será?
Espero, sinceramente, estar errada em minhas percepções e, imaginar que há indivíduos que sofrem como eu, que procuram buscar uma fórmula ou fé para se apegarem nesse momento de descaminho entre os seres humanos, pedindo a Deus, ou seja lá em que você acredite, que mude essa caos em que nos encontramos. Que o amor entre os homens prevaleça. Que a solidariedade perpetue em nossas vidas como ensinamento aos nossos descendentes para que, um dia, eles saibam que não fomos indiferentes aos acontecimentos bárbaros e frios que assolam o Planeta nesse momento em que vivemos e, pelo menos sintam que pudemos fazer algo para mudarmos isso nem que seja escrevendo como um desabafo de uma mãe, filha e cidadã brasileira, acima de tudo porque quero e torço pelo melhor para o nosso País. Continuo sendo otimista, esperando que todos nós nos conscientizemos e cada um faça algo que esteja a seu alcance para mudarmos o rumo dos sentimentos ou ausência deles.
Essa é minha contribuição, humilde, saindo de um coração pulsando em busca de uma solução para o desamor entre nós, irmãos de alma ou em Cristo!
Deus nos guie e proteja-nos nessa jornada terrena.
São Paulo, cinco de novembro de 2008
ROSEANE PINHEIRO DE CASTRO