CARTAS III

Querida irmã,

O dia já se vai, e ao longe, vejo refletir a despedida do vermelho, amarelo e laranja numa dança nas águas transformando-se em dourado que parece entra em nós gerando um esplendor na alma.

Quisera estivesse comigo nesses dias de remanso à beira-mar, bem sabe que eu fiz o esforço necessário, mas confesso insuficiente para tê-la junto a mim nesse período.

Muito satisfeita estou com as incursões nas vilas próximas. Andei pesquisando para entender de onde vem a tal alegria cantada e recantada sobre o povo dessa região.

Sei deve estar perguntando, será que descobriu?

Penso que sim, minha irmã.

Simplesmente eles e elas, todos, salvaguardando claro, quem se desviou da essência, não se dão conta de que são isso tudo, e mais qualquer coisa.

Quem sabe não se deu conta que sabe, o que não sabe é tido como quem sabe, e ele busca sempre aprender com quem sabe, mas não se dá conta que sabe.

É a corrente do saber, entender, distribuir e multiplicar, um anel a céu aberto que ninguém vê onde está, mas todos sabem que lá está.

Que conversa de louco é a sua? Se bem lhe conheço lendo-me e rindo, mas que eu senti sua falta senti.

Uma companhia sempre ajuda, aprendi aqui que os solitários produzem menos. Um dos sábios que nada sabem, disse-me que o esforço de dois no mesmo sentido faz encurtar o caminho e sobra tempo para descansar. Aprendi também que a contemplação a dois pinta um quadro sem tintas.

Espero que meus sobrinhos tenham resolvido todas as pendências para as quais você destinou o tempo reservado a essa viagem. Eu feliz estou, mas menos um pouco do que deveria por sentir que seria muito melhor se estivéssemos as duas.

Despeço-me com um abraço de cansada que estou, porque ando por duas, olho por duas e somente eu desfruto desse lugar.

Com a certeza de que me aguardam muitas noites para contar como é descobrir como é bom amar.

Da irmã que muito lhe ama e respeita,

Denise Figueiredo.