Carta de adeus

Meu caro amigo,

sinto informar que não anseio mais pela vida, hoje suspiro pela morte e ela por mim. O tormento vem me consumindo dia após dia. Sinto minhas mãos frias e meu coração bate lentamente.

Amei aquela mulher! Amei tanto que hoje sou migalha de mim mesmo.

Ela me deixou no chão, pisou sobre minha cabeça, como São Jorge pisou no Dragão. Nem mesmo sei como tenho forças para lhe escrever. Mas já que ainda suspiro, divido contigo essa minha dor e meus pedidos que espero que faça depois de minha partida.

Provavelmente, quando esta carta chegar em suas mãos, eu não estarei mais aqui para poder dar-te o último abraço. Mas desde já, saiba que neste momento mais lamurioso de minha vida, o que eu mais gostaria de fazer era dar-te um abraço forte, mas ao mesmo tempo singelo.

Minhas mãos estão fracas, frias e como não me alimento há dias já não tenho tido bom reflexo nem mesmo para escrita, mas convenhamos, essa é minha carta de adeus, que seja mal escrita, como foi a história da minha vida.

Pensei em algo mais trágico, tipo cortar os pulsos. Mas tu bem sabes que não sou chegado a dor, ver meu sangue gotejando seria cruel demais. Cogitei a ponte. Você deve pensar: Ele iria parar todo o trânsito da Rio-Niterói e não ia se jogar. Pois tá certo, não iria mesmo. Só de parar o carro no acostamento me deu nauseas. Até tomei alguns calmantes, para tentar morrer dormindo, mas você acredita que o máximo que consegui foi dormir um dia inteiro?

Pensei tanto num suícidio banal, que esqueci que o pior suícidio é aquele é o do dia-a-dia, aquele que morremos aos poucos, aquele que alguns chamam de depressão. Aquele que deixamos escorrer pelas mãos a cada dia.

Pois bem, não nutri meu corpo por convardia, mas sim por falta de desejo de viver. Assim a vida foi me escorrendo pelas mãos como quando brincávamos na praia de tentar segurar aquela água toda em nossas mãos. Ah! como a minha infância foi bonita. Boniteza que me alegra até neste triste penar.

Meu caro, não te deixo heranças, aliais como sempre lhe deixo problemas, mas conforta-te, pois deixo-te os melhores problemas que já tive, aliais os únicos problemas que consegui responder, pois a resposta era tão lógica que não teve jeito. Acertei.

Vou começar pelo problema que tem solução.

Laura e Maverick agora são teus. Alegra-te homem! Não fique tenso, nem tenha um ataque de fúria. A solução deste problema é amor. Ame-os como eu, ao menos tente. Fale todos os dias que eles são a perfeição. Não esqueça que Maverick gosta de carinho com o pé, mas que Laura tem horror que lhe toquem com os pés. Não deixe minha pequenina bruxa perto de gente, sabes bem que ela odeia esse tipo de mortal. Converse com ela toda vez que voltar de alguma viagem, diga como foi o passeio e ela ficará as boas contigo, depois de alguns dias, é claro. Procure sempre colocá-la embaixo dos cobertores, pode cobrir a cabeça dela, pois ela gosta. Quanto a Maverick, tenha muito cuidado, pois este gosta tanto de gente que pode acabar sofrendo em contato com esse tipo de mortal, tenho medo que o machuquem ou que ele acabe se perdendo, pois ele confia demais nos humanos. Não deixe de brincar de pique- esconde com ele, mas deixe que ele também corra atrás de você. Ele sabe muito bem, que o prazer tem que ser para ambos. Quando ele ficar miando demais, resmungando, é porque você precisa parar e conversar com ele. Se não fizer ele vai ficar miando até você dialogar com ele, então polpe tempo e logo que ele começar a resmungar dê atenção.

Meu deus, poderia ficar a noite toda aqui, te relatando como agir com meus companheiros de uma vida.

Mas pensando bem, venha me visitar com urgência. Desisti de morrer, vou comer um bom miojo. Não estou preparado para deixar meus gatos e muito menos eles estão preparados para viver sem a minha pessoa por perto.

Estou te aguardando.

Inté,

Sebastian Walmmon