Amo você. Adeus.

Amor,

Perdoe-me, mas eu não posso voltar. Agora estou confortável aqui.

Eu aprendi a ser assim: conformada, fácil, dócil diante da vida e agora não sei mais andar para trás – e acho que nem para frente. Não sei mais voltar e não faço mais questão de avançar, o que não é um problema já que o tempo avança e me deixa para trás fazendo com que eu não fique jamais parada.

Às vezes me pego imaginando como seria minha existência há alguns séculos. Certamente eu não seria criticada pelo meu excesso de paciência ou conformismo. Penso que eu continuaria infeliz, uma vez que continuaria sem lutar, mas não teria a minha infelicidade incrementada pela culpa. Imagino que ela seria atenuada pela sensação de “dever cumprido”.

Sem mais devaneios – aos fatos: não sei quando surgiu meu talento para a mediocridade, mas está aqui. Sendo assim aquele pranto cheio de saudade e desespero que você viu em mim quando parti não durou mais do que alguns dias e foi extinto, assim como a maioria das outras emoções que experienciei enquanto estive aí. E é assim que explico a minha falta de vontade de voltar: Não me lembro mais do que senti aí, apenas lembro de leve a dor que senti ao partir, então não quero voltar porque não quero de novo aquela dor. E se você se perguntar se eu também não sinto dor aqui saiba que sinto sempre uma dor constante com a qual já me acostumei. Mas a dor que eu sinto aqui é a dor da minha vida, inerente à minha existência; a dor que eu sentia ao partir era dor nova, dor inconstante, dor de querer.

Adeus.

Leilane Cesar
Enviado por Leilane Cesar em 28/10/2008
Código do texto: T1251969
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