Definitivamente a última para você
Sentada aqui, relembrando nossos momentos que naquela época pareciam tão satisfatórios, percebo o quanto minha exigibilidade aumentou. Hoje você não passaria pelo seletivo crivo da minha catraca, você não andaria na minha fila.
Tenho convicção de que você conseguiu chegar até mim e permanecer por tanto tempo, porque veio num momento de completa confusão dentro de mim, e se aproveitou disso! Se aproveitou do meu temperamento e do meu momento. Você não foi um amor, tampouco um companheiro.
Você foi um homem com seus vinte e poucos anos, beirando os trinta, que apareceu na minha vida e que aparentemente era seguro, estável e maduro. Aliás, o que eu mais admirava em você eram essas (falsas) características. Você veio carregando a sua infância sofrida, a sua adolescência rebelde, as suas frustrações amorosas e familiares. Aí você me encontrou, “tão perfeita para ser a mulher da sua vida” e jogou nos meus ombros toda essa carga, me fazendo acreditar no papel de vítima que você me pintou e eu, “pouco” sensível e sentimental, acabei não resistindo a alguém com uma vida tão complicada e desconcertante. Achei todas as suas histórias um absurdo, uma tristeza! Eu que sempre tive uma vida confortável e tranqüila, que era sempre tão protegida pelos outros, que era paparicada pela minha família, que era cercada de amigos queridos e blábláblá... Eu rezei tanto por você, para que eu soubesse lidar com alguém como você, para que eu soubesse como te ajudar!
Ah, amarga ilusão... Você sempre tão disposto a ajudar a todos e quando todos estavam convencidos que você era uma pessoa maravilhosa, um rapaz “único, desses de não deixar escapar”, aí neste momento, que você tornou-se unanimidade entre os meus, eu comecei a abrir meus olhos, eu percebi que era impossível que alguém fosse tão perfeito o tempo todo e quase como num passe de mágica (mas eu sei que não foi mágica) conheci sua verdadeira essência. Comecei a me incomodar com as suas surpresas que, convenhamos, estavam se tornando até rotina de tão freqüentes, o cheiro das flores que você me mandava (argh) começavam a me causar enjôo, pegar na sua mão enquanto andávamos pela rua se tornou constrangedor para mim!
Então olhei bem dentro dos seus olhos e vi um vazio, uma mesquinhez inacreditável, vi um homem que me fazia sua muleta, que mesmo lindo (e você sabe que beleza sempre foi o seu forte) era feio demais para quem via por dentro! E eu vi aí dentro um homem que achava que eu ficaria ao seu lado para sempre porque seu carro era o mais caro que eu conheço, porque seus ternos eram alinhados e porque seu sobrenome era imponente. Pensou que eu estaria satisfeita com o POUCO que você pode dar?
Você sabe de tudo que aconteceu depois disso! Você, que me achou sempre meiga e compreensiva, conheceu meu lado decepcionada e furiosa! Da forma como eu mostrei esse lado à você, até hoje não precisei mostrar para mais ninguém, mas se for necessário um dia você sabe que não tenho medo em ser eu!
Não fui má com você, eu fui justa! Mas sei que causei muito mais impacto na sua vida do que você causou na minha. Você sempre soube da forma como encaro a vida, da minha capacidade de enxergar beleza nas piores coisas, e por isso que da nossa “história”, só me restaram ensinamentos de coisas que não devo repetir e a certeza plena de que eu carrego dentro de mim todas as forças para suportar o peso da cruz que é minha.
Não quero mais ligações, não quero cartas, e-mails, declarações e, sobretudo, não quero desculpas nem promessas de mudanças! Não quero! Não quero!
Se quiser mudar ou não, a escolha é toda sua, não me interesso pelo rumo que você vai tomar na sua vida. Me esqueça e, caso esteja mesmo impossível me esquecer, ao menos me faça imaginar que você me esqueceu!