CARTA A CARLOS DUARTE
CARTA A CARLOS DUARTE
Meu nome é William Pereira da Silva sou professor da rede pública estadual de ensino, leitor assíduo deste Jornal, venho por meio deste veiculo de comunicação demonstrar minha revolta e indignação com tudo o que acontece na educação. É angustiante como tudo acontece. Só quem convive o dia-a-dia nas escolas sente no espírito, na carne a canalhice existente no funcionamento da maioria das escolas de Mossoró. O clientelismo político que eu determino de politicagem sebosa prevalece nas relações internas do convívio diário e no trato dos recursos destinado ao funcionamento da escola.
Ainda quando adolescente (meados de 1972), já convivia com a corrupção solta no meio escolar, já sabia das tramóias dos motoristas das Kombi da escola que junto com os bombeiros (frentistas) dos postos de gasolina adulteravam a nota fiscal colocando um preço acima do abastecimento, dividindo a diferença com os dois e uma parte para o diretor. Muitos diretores de escolas aparentemente respeitados por todos também faziam suas “virações” ( na época roubar era esse nome), cobravam taxas diversas aos alunos arrecadando bastante dinheiro embolsando tudo para gastar em beneficio próprio com farras homéricas. Diretores distribuíam a merenda escolar na época das eleições levando da escola uma carga cheia num carro com carroceria, na calada da noite para distribuir com os eleitores. Resmas de ofício eram melhor que dinheiro achado, a secretária mandava para a escola em quantidades suficientes para suprir um semestre e menos de um mês eram todas vendidas às escolas particulares. Absurdos também aconteciam sem o menor escrúpulo, no Governo de José Agripino uma diretora tinha recebido bolsas plásticos para distribuir na campanha eleitoral. Tendo perdido a campanha e não havendo tempo de distribuir todas as bolsas simplesmente ela, nas escondidas, junto com o motorista, carregaram as bolsa para um local a esmo e tocaram fogo em tudo e não deu mais uma bolsa a ninguém com ódio por ter perdido a campanha, dinheiro da educação que foi queimado (fui testemunhar ocular destes fatos). São tantos os fatos de corrupção e descaso com o dinheiro da educação que no decorrer da década de setenta até os dias de hoje se aplicado de forma correta teríamos a melhor educação do planeta. Essa pratica está enraizadas na alma destas pessoas que não querem mudanças. Tudo acontecia com o conhecimento de todos, mas doido era que ia denunciar não existiam órgãos competentes e os governantes sempre eram coniventes porque tudo isso ajudava nas suas eleições, a corrupção era e é moeda eleitoral forte.
A ÚNICA RAZÃO PARA A CRISE QUE ASSOLA A EDUCAÇÃO CHAMA-SE CORRUPÇÃO e das grandes, daquelas que podemos determinar como ‘MÁFIA EDUCACIONAL”. Existe uma máfia agindo em todo estado para desviar os recursos destinados a educação e quando não são desviados são utilizados de forma incompetente e irresponsável.
Uma síntese do que acontece na educação hoje; Cada escola tem um deputado ou um político influente da cidade determinando o funcionamento das mesmas, começando pela 12ª DIRED, esses políticos indicam funcionários, desviam recursos de uma escola que não é seu curral eleitoral, apóiam funcionários fantasmas, relapsos, cedem às escolas as instituições diversas com fins eleitoreiros, diretores apoiados por políticos importantes ligadas diretamente ao governo desviam verbas descaradamente na frente de todos sem medo de ser punidos, diretores são escolhidos com o único critério de ter sido um fiel cabo eleitoral nas campanhas ( As eleições para diretor mudou um pouco o quadro, mas alguns ainda estão sendo eleitos pelos mesmos esquemas das campanhas eleitorais, na marra comprando votos e “arrumadinhos” conhecidos). Os conchaves com comerciantes na troca de notas fiscais frias é uma constante. Micro empresas são criadas para prestar serviços nas escolas numa troca de favores nunca visto, emprestam dinheiro aos diretores que tem dificuldades na demora da chegada dos recursos (Eles criaram um sistema onde há um empecilho da verba chegar logo na escola no seu tempo normal e com o atraso este empresário torna-se um verdadeiro agiota sendo o salvador da pátria).
No ano de 2004 passei uma experiência terrível. Cansado de ver tudo isso acontecendo e a escola que trabalho a Escola estadual Jerônimo Rosado entrando numa crise sem precedentes com departamentos fechando, aulas começando meia hora depois e terminando uma hora antes do horário normal, fechamento de turmas, nenhum projeto ou trabalho de qualquer professor dava certo, o dinheiro sumiu da escola, assaltantes arrombavam a escola com freqüência assustadora, tudo se acabando, um verdadeiro caos. Resolvi agir e investigar o que estava acontecendo e descobri o que já suspeitava.
Alertado por um funcionário que a diretora havia comprado pneus para o carro dela com o dinheiro do caixa escolar fui à sala da direção sorrateiramente, encontrei uma intimação do cartório solicitando a cobertura de um cheque sem fundo que depois descobrimos ser mais de quatro. O Banco do Brasil tinha bloqueado a conta do caixa escolar e estava prestes para entrar no SERASA. Ela estava desviando os recursos da escola em beneficio próprio caracterizando o peculato e improbidade administrativa. Denunciei anonimamente (Foi minha sorte) começando um processo de conflito na escola jamais visto. O pior aconteceu, o feitiço virou contra o feiticeiro, a maioria dentro da escola mesmo sabendo da denuncia feita nos jornais (Jornal de fato) apoiou as ações da irresponsável, A DIRED deu total apoio a ela, o Sindicato dos trabalhadores em Educação - SINTE fez igual à PILATOS, lavou as mãos, a policia queria provas, a promotoria evidências, denúncia formal por alguém e provas mais consistentes. O menor adjetivo que chamaram o denunciante foi de covarde, os que sabiam ter sido eu o denunciante afastaram-se de mim como fosse um leproso. Depois que as suspeitam realmente recaíram sobre minha pessoa juntaram-se uma cambada de corruptos burlaram um abaixo assinado e foi ao DIRED pedir minha remoção. Não conseguiram pela interferência do SINTE por muita insistência minha pedindo apoio. Fiquei isolado de tudo e de todos.
Foi somente com ajuda dos alunos em reuniões secretas aos domingo à tarde planejando uma ação em busca de divulgação na imprensa que conseguimos lograr êxito (Na época não sabia se existia o página certa), acertamos na mosca. Em grupos uns foram a TV Cabugi, outros nos jornais, alguns nas emissoras de rádio, culminando com a exoneração ao vivo na TV CABUGI da diretora pelo secretário de educação que já sabia de tudo, mas só resolveu agir quando a imprensa “bateu em cima”.
Depois da tempestade vem a bonança. Veio para escola, pra mim foi o inferno de Dante. Começaram as perseguições, escondiam as chaves dos departamentos que eu utilizava no meu projeto xadrez escolar, não me davam acesso à escola aos finais de semana, fizeram o abaixo assinado para minha remoção, muitos que se faziam de amigos deixaram de falar comigo e todo tipo de baixaria tentaram contra a minha pessoa, mas venci. Provei os roubos e desmandos dentro da escola, ergui a cabeça e hoje todos sabem quem tinha razão e muitos pedem perdão ou por ter sido enganado pela incompetente diretora ou pelas injustiças que cometeram contra mim.
Este foi o pior governo para a educação que vi desde a década de setenta, sou testemunha disso e confirmo tudo que foi escrito na reportagem deste jornal. A sujeira rola dentro dos bastidores. Enquanto os deputados ou políticos não deixar as escolas em paz viveremos este caos, esta humilhação pela qual passam todos que trabalham honestamente dentro do setor educacional.
Relatos informais do que acontece no meio escolar faz qualquer cristão tremer na sua fé. Diretores que entra sem nada e saem de carro zerinho todo mundo comenta. Certa vez certo diretor cheio de orgulho disse: Eu só aceitaria ser diretor do colégio estadual se me dessem mais cinco escolas para colocar meus amigos como diretores, não me deram fiquei nesta escola pequena mesmo, aquilo é dor de cabeça (Pura barganha como se a educação fosse uma coisa qualquer). Dizem que alguns têm apartamentos em Natal somente adquiridos com o dinheiro de escolas. Há funcionários de cargos simples com chácaras, casa na praia, carros do ano pra si e um para filha, casa primeiro andar na cerâmica. Ser diretor de escola neste governo virou ser mercenário, escapam poucos. O pior de tudo é que todos sabem e ninguém, ninguém mesmo toma uma atitude para mudar este quadro e eles, os corruptos, sabem disso aproveitam até UM DIA A CASA CAIR.
Lancei nessa imensidão podre dentro da educação uma cartilha com o título EDUCAR A AÇÃO - CARTILHA DE COMBATE A CORRUPÇÃO NAS ESCOLAS PUBLICAS – que tenta fazer um chamamento às pessoas de bem que resta na educação para travar uma luta desigual contra essa corrupção desenfreada que toma de conta das escolas do Estado do Rio Grande do Norte, em especial Mossoró. Nela proponho a conscientização de todos para formar uma ONG exclusivamente para agir dentro deste contexto de combater a corrupção nas escolas e conscientizar pais, alunos, professores, funcionários, diretores honestos numa campanha na qual com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação – LDB, as cartilhas do governo Federal estimulando a pratica e ação dos conselhos escolares sejam aplicadas e agirmos numa ação direta nas escolas com palestras, cursos, denúncias, interferência direta dentro das escolas incentivando a denuncia anônima ( criaríamos um e-mail, telefone para tal finalidade), seminários, simpósios, distribuição das cartilhas, panfletos, tudo que for preciso para começar uma luta contra essa poderosa engrenagem de corruptela inserida no meio educacional.
O objetivo desta carta é parabenizar o jornal pelas reportagens de denúncias que afligem a educação como também mostrar minha indignação e luta neste contexto.
Atenciosamente:
William Pereira da Silva