Desamor

Me obrigo a um processo de desamor. A gente desama, quando percebe que ama demais, ou ama mais. O amor demais destrói. O meu amor a mais acabou com o nosso amor. É um perigo! O excesso de amor obriga o outro a amar na mesma proporção, porque quando isso não acontece o coração da gente frustra, desilude, perde-se, enlouquece. Eu enlouqueci, saí por aí, dei bandeira. Abri guarda e outra entrou. Coração confundiu tudo, misturou carência, amor, paixão, tesão... Errei na medida dos valores sentimentais e a balança quebrou. Desastre! O amor de verdade quebrou, o que não é de verdade nada triscou. Pude perceber o que era e o que não era real. Mas já não dava mais tempo... Não dá mais tempo... é complicado colar. Difícil não enxergar as emendas, as marcas. Não dá pra topar. Ou dá? Por exemplo, coração quebrado, e depois colado, o amor não sangra pelas trincas? Pior ainda, à conta-gotas... é doloroso. Cada gota, uma lembrança, um sofrimento, uma mágoa... Vaza, não tem jeito. Não dá pra conter coração machucado. Vive em constante ameaça. E é aqui que me pego em dúvida atroz: apesar de ainda tanto amor, vale mesmo a pena esse amor?

Posso escolher a minha dor: a da sua ausência; ou a dor que é a nossa convivência.