Carta n° 1 - Mulher em crise de meia-idade

BREVE EXPLICAÇÃO SOBRE ESSE TEXTO: Eu fiz um cadastro em um site que não oferece a mesma estrutura do Recanto das Letras, criando cartas fictícias enviadas a um psicólogo e colunista de um jornal chamado Marcelo Brandão, que aconselha as pessoas em suas dúvidas e problemas do cotidiano. Após algum tempo sem escrever nada aqui, decidi fazer um "teste" para saber o nível de aprovação que esse estilo de texto teria aqui. Se alguém apreciar, irei postar com frequência cartas nesse estilo, em meio a outras criações minhas e, para diferenciá-las, as cartas terão o título "Carta n°". Espero que apreciem as três primeiras!

Gustavo Oliveira

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Querido Marcelo Brandão,

Leio sua coluna todos os dias. Sou uma daquelas que você chama “solteirona desesperada”, desejando ansiosa por um relacionamento sério. Já passei dos 30, e sinto que vou ficar para a titia – e minha mãe, para piorar, joga isso na minha cara todo dia. Será que tenho algum problema, é exagero meu desejar um homem compreensivo, inteligente, charmoso, que não olhe apenas para meu decote e o tamanho da minha saia?

Aguardo uma resposta ansiosa, pois tenho a sensação que vou ficar louca!

Grata,

Loira com mais de 30 em surto

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Querida Loira de mais de 30:

Como vai?

Recebo cartas como a sua constantemente. Mulheres não só com mais de 30, mas também com menos de 20, menos de 30, mais de 40. Parece-me aquela famosa “crise de meia-idade”, onde as mulheres costumam revisar suas vidas, valores, crenças, parceiros, carreira, família, dentre outros.

É um momento de transição, onde você reavalia toda sua vida, confirma se realizou ou não os planos, objetivos que traçou. Se me permite a metáfora, é aquele momento em que Alice acorda e descobre que o mundo real não é o País das Maravilhas.

Quanto a sua questão com o sexo oposto, posso dizer que os contos de fadas que povoavam a imaginação de muitas mulheres caíram por terra. Usando outra metáfora, arrisco dizer que os príncipes caem do cavalo porque não sabem galopar, é tudo charme para aparecer e chamar atenção, a donzela não tem mais paciência de ficar esperando o resgate, e acaba correndo atrás do caçador da floresta, pois com ele tem mais aventura, ação e atitude. Aquele beijo do despertar, eu acredito que Bela Adormecida e Branca de Neve, hoje, pensariam que foi perda de tempo ficar dormindo.

Sua carta, e a de muitas outras leitoras com a mesma problemática, eu diria que devemos viver mais os relacionamentos no estilo do desenho “Shrek”, da Disney. Um ogro, uma ogra, com qualidades e defeitos como todos tem tentando conviver e ser feliz, mas sendo quem são. Sem o clichê de donzela indefesa: Fiona parte para o ataque, luta, briga, e seu príncipe tem um Burro falante como seu “cavalo branco”.

O sonho Hollywoodiano do amor torna-se algo fora dos padrões que vivemos, com essa inversão de papéis. A emancipação e o grito de independência feminino, disputando o mercado de trabalho, deixando os filhos por conta do marido ou de babás, e correndo atrás de seus sonhos, objetivos. Ou ainda, mesmo casadas, devem dar conta dos filhos, do lar, do marido, e trabalhar, estudar, dentre outras atividades.

Claro que muitos e muitas ainda sonham com o amor verdadeiro, aquele à primeira vista, o encontro mágico onde dois olhares se cruzam em meio à multidão e o amor acontece. Esperamos pelo homem ou mulher certos em nossas vidas. Afinal de contas, faz parte da vida sonhar, idealizar, desejar um amor pra si, porém não posso descartar que o Complexo de Princesa de Contos de Fadas deve ser deixado para trás e encaremos a realidade: o verdadeiro amor tem qualidades e defeitos, vai reparar no seu decote e na sua saia, é corajoso para algumas coisas, medroso para outras, mas é aquela pessoa que você quer estar junto, quer ter ao lado por um bom tempo, construir uma relação. E, para isso, existe algo fundamental: estar bem consigo própria, gostando de você mesma.

A auto-estima é fundamental, sem que se torne egoísmo, egocentrismo, arrogância, prepotência. O seu “ficar para a titia” só vai ser real se você o alimentar, acreditar que isso irá acontecer. Enquanto você não encontra o homem certo, invista em você: faça cursos, cuide-se, relaxe, esteja com amigos e pessoas que a façam bem. Quando menos esperar, as coisas irão acontecer.

Com relação a sua mãe, ela só quer o seu bem, que você seja feliz e, assim como eu desejo, ela também quer sua felicidade no campo amoroso. Tenta conversar com ela, expor seu ponto de vista, os desafios que você enfrenta com relação aos encontros que tem, quais os tipos de homem que costuma encontrar. Seria interessante você também escrever sobre suas experiências, com todos os detalhes de como foi o encontro, o que você esperava e o que realmente aconteceu, o que você busca. Quem sabe você possa encontrar respostas e pontos que você tenha que melhorar em você mesma.

Por fim, desejo deixar um conselho ao sexo masculino, aproveitando sua carta: tenham mais atitude e não tenham medo de serem felizes e do amor. Todos merecemos encontrar um (a) parceiro (a) e ser feliz no amor.

E, para as mulheres abaixo ou acima dos 20, dos 30, dos 40: arrisquem, amem, apaixonem-se, sempre. Só porque não deu certo um encontro ontem, o de amanhã será igual. Valorizem-se, sejam felizes, primeiro consigo próprias, depois com os outros.

Um abraço e sucesso em sua jornada!

Marcelo Brandão

Gu Oliveira
Enviado por Gu Oliveira em 14/10/2008
Código do texto: T1227151
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