Carta n° 2 - Católico fervoroso por obrigação
Caro Marcelo,
Boa noite,
Sou fã de sua coluna, gosto muito de como você, mesmo via papel, com suas palavras nos ajuda a enxergar a vida com outros olhos. Não sei se você trata desses assuntos, porém estou em um dilema: minha mãe me obriga a ir a missa todos os finais de semana, porém minha esposa freqüenta um centro de umbanda, acho que você sabe o que é, e sempre tive interesse e vontade de conhecer, mas minha mãe é contra e é um ritual que sempre fiz, desde pequeno com ela, e não consigo falar não. Será que você poderia me ajudar?
Parabéns pela coluna e sucesso sempre!
Filho da Católica Fervorosa
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Católico Fervoroso por Obrigação:
Como está?
A primeira pergunta que faço é: qual sua real vontade? Continuar com os rituais maternais ou acompanhar sua esposa, mesmo que não venha a freqüentar o centro? O segundo ponto que vejo está na sua questão: como dizer não a sua mãe, sem magoá-la?
Na vida somos obrigados a fazer tantas coisas por obrigação, nos privamos de tantos prazeres e luxos – e não falo de carros importados ou mansões. Falo de luxos como brincar os filhos, assistir uma peça no teatro ou um filme no cinema, uma reunião com amigos. Colocamos tanto nosso trabalho, carreira, dinheiro acima de nosso bem-estar, que ás vezes nem damos conta que deixamos de viver a vida em sua plenitude, só focamos no lado profissional e deixamos o pessoal de lado.
No seu caso, você tem o poder de escolher em suas mãos. Volto à pergunta que fiz no começo: continuar acompanhando sua mãe ou acompanhar sua esposa? Apenas coloque na balança o que você quer, acima de tudo. Nesses momentos, devemos deixar um pouco aquele sentimento de obrigação, por ser mãe, fez isso a vida toda com ela. Será que não é hora de romper esse paradigma e realizar um ritual que dê mais prazer a você? Coloque-se também no lugar de sua esposa. Imagino que ela compreenda e entenda, porém há quanto tempo você recusa o mesmo convite? (dependendo de quantos anos estão juntos). Já pensou em perguntar como ela se sente? Acredito que ela seja muito compreensiva e entenda suas razões, não quer forçá-lo a nada.
Outra escolha que você deve fazer é viver sua vida, desligar-se um pouco de sua mãe. É um elo forte, entendo, não falo em abandoná-la ou deixá-la de lado. Falo apenas em viver sua vida, fazer suas escolhas, seguir seu coração, sem que terceiros interfiram em suas decisões. Eu sei que é complicado dizer não a nossa mãe, parece afronta, que vai magoar, contudo a vida é feita de escolhas e, toda escolha terá suas conseqüências.
Quanto à religião, sim, conheço a umbanda, pois gosto de ler sobre diversos assuntos, especialmente os religiosos. Porém, não está em julgamento a religião propriamente dita, mas o seu medo em romper esse elo de ligação e fazer algo por si mesmo.
Se tiver um conselho que posso dar-lhe é: aprenda a dizer não para sua mãe, para seus amigos, para sua família. O não também existe, e serve para ser usado. Dizer sempre sim é errado, pois você sempre se coloca em segundo plano para agradar ou satisfazer alguém.
Agradeça ao convite, tente conversar, explicar a situação, expor os fatos. Você já tentou conversar com ela? Explicar suas razões, tentar expor seu ponto de vista? Se tiver essa abertura, tente. O diálogo sempre resolveu tantas desavenças e diferenças. Às vezes, para ela, não é a missa que importa, mas ter você por perto. De repente vocês, juntos, possam pensar em diversificar e dividir os momentos, para que você tenha mais liberdade de ir ao centro com sua esposa, sem que sua mãe se sinta em segundo plano. Mostre a ela que você se importa, quer bem, pode sempre estar com ela, desde que seja um momento prazeroso a você e a ela. Acredito que ela ficará mais feliz que você esteja com ela por prazer, diversão, que acompanhá-la de mau humor, sisudo, com a cara amarrada, não?
Espero que tenha ajudado de alguma forma, qualquer coisa, não hesite em escrever-me novamente, mesmo que muitas das cartas e e-mails que chegam não sejam publicadas, eu faço o possível para responder a todos, e gosto de saber o desfecho das histórias dos meus leitores.
Abraços e, aprenda a dizer não e tomar o controle de sua vida!
Marcelo Brandão