CARTA AO ZARUR

Explicando:

Essa carta escrevi ao Zarur, um amigo de infância. Foi escrita em 1971.Há algum tempo ele me enviou um xerox. Já nem me lembrava mais. Assim, transcrevo:

São Paulo, 15 de setembro de 1971

Ilmo. Sr.

Zarur, ou simplesmente o HOMEM QUE CAMINHA DE TEIMOSO.

Barra Bonita- Estado de São Paulo.

Prezado Senhor;

Gostaríamos, preliminarmente, de agradecer as agruras que passamos em companhia de V.Sa. esse fim de semana próximo passado.

Em especial, a sua preocupação de em plena madrugada Barra-Bonitana, procurar o melhor dos gatunos da redondeza, conhecido Faro-Fino, para surrupiar de maneira sorrateira e em grande estilo, os dois faróis de neblina( Londrina), diga-se de passagem, no valor de Cr$ 1.000,00 cada um, do nosso amigo Celso, mais conhecido pela alcunha de Mineiro, o qual acha-se internado em uma clínica especializada para os nervos diante de tão lamentável acontecimento.

Mas,não poderíamos deixar em branco, o seu esquecimento no baile tradicional da Rainha da Telha, antiquado por sinal, pois aqui em São Paulo, já estamos patrocinando o baile da Eternit, modestamente de nossa fabricação. Esquecimento este dado por puro receio de que a Rainha da Telha, do ano que já se vai há muito tempo, atualmente sua concubina, se defrontasse com os nossos maviosos encantos e finalmente viesse a sucumbir diante do nosso charme.

Ademais, ainda, outrossim, se faz de direito, uma ou mais reclamações, dentre elas:

1- Completa falta de conforto que encontramos nas acomodações que nos foram destinadas.

2-A Casa era completamente desprovida de qualquer aparelho elétrico, manual ou a manivela.

3- O Chuveiro elétrico, que levamos daqui, depois de instalado, as nossas custas, dava choque de mais ou menos 1.500v. em quem ousasse pelo menos se dignar uma aproximação, devido a falta de uso no sistema elétrico da casa.

4- O café servido, depois de minucioso exame, foi constatado ser: grafite de lápis de cor marrom.

5- Antes do baile nos foi estendido talco para desinfetarmos as axilas, o qual examinado posteriormente foi dado como farinha de trigo.

6- Em todo e qualquer estabelecimento comercial que entrávamos, nos eram apresentados contas devidas por V.Sa. as quais, bondosamente pagávamos sem qualquer contestação.

Assim sendo, gostaríamos que para o próximo baile, V.Sa. se dignasse a melhorar o aspecto da casa, seu moral na cidade, seus vícios, dentre eles o de beber e fosse desde já a frequentar uma escola de boas maneiras para melhor receber esta fina nata da cidade de São Paulo.

Desde já, nossos melhores votos de rápida recuperação.

Atenciosamente.

Lais, Mineiro e José Romeu.

Obs: Colaboraram Lais e Mineiro, companheiros de viagem.