Resposta a carta de uma enferma

Holanda, 09 de setembro de 1998.

Querida Mabelle

Hoje faz sete dias que você se foi, cheguei na Holanda nessa madrugada, dia 1 de setembro cheguei em Paris para lhe ver, queria lhe fazer outra surpresa, Amelie me levou ate seu quarto, você dormia tão lindamente, sentei-me ao seu lado, não queria lhe acordar você parecia um anjo, estava serena, com semblante que transmitia tanta paz, eu fiquei ali ao seu lado, mudo, parado só a lhe observa, a carta que você me escrevera dia 22 de agosto me deixara muito preocupado, então vim o mais depressa que pude e por sorte consegui lhe encontrar viva, quando você acordou e me viu, seus olhinhos claros brilharam como nunca havia visto antes, sua pele ficou rosada e você me abraçou tão calorosamente que pude sentir o seu coração batendo junto ao meu, numa sinfonia tão harmônica como a mais bela das mais belas canções, tomamos um maravilhosos café e nosso dia se seguiu assim, cheio do mais sublime amor, nadamos, cantamos, fizemos um belo piquenique a tarde e vimos o sol se pôr juntos e abraçados, até ele parecia se despedir de você e a lua chegou timidamente como que se sentisse que não podia competir com a beleza do nosso amor, a noite nos amamos éramos um só, e dormimos abraçados.

Pela manha quando acordei você não estava ao meu lado, desci correndo as escadas e lhe procurei por todos os cantos, você não estava, um temor dominava meu corpo inteiro, eu estava refém daquele medo, ao sair pude ver você sentada no jardim você estava em frente ao lago e ao seu lado havia uma tela lacrada, fui correndo ao seu encontro lagrima caiam involuntárias dos meus olhos, quando me aproximei você estava com um semblante tranqüilo lembro-me que você disse “Henry, você não sabe o quanto estou feliz hoje, quero lhe agradecer por ter feito do meu ultimo dia o melhor de todos” eu não deixei que você terminasse e lhe beijei, como tentando lhe dar o sopro de vida que você disse que eu lhe transmitia, depois lhe abracei com força, só pude ouvir você dizer baixinho no meu ouvido” eu te amo” e ficar inerte nos meus braços, eu chorei com você junto a mim, seu pai e Amelie logo chegaram e se juntaram a mim num choro silencioso, uma paz dominou o local, você se foi sorrindo, nunca esquecerei do seu rosto naquele dia.

No seu enterro, todos os nossos amigos estavam presentes, eu não falei nada, fiquei ali ao lado do seu corpo gélido, em silêncio, nem mesmo a morte conseguiu tirar-lhe a beleza

Só hoje consegui ler a ultima carta que você me escreveu, eu a achei na escrivaninha do seu quarto, a tela que você me fez também só consegui abrir hoje, nela você pintou o nosso primeiro encontro, você esta no chão me dando a sua mão para que eu a ajudasse, a coloquei no meu quarto sobre a cabeceira de minha cama assim, poderei te ver sempre, você cumpriu com a sua palavra, pq a toda hora sinto você ao meu lado e isso me tem dado forças para continuar a esperar ansioso pelo dia do nosso reencontro onde novamente poderemos ser um só.

Beijos

Do seu menino Henry.

Lili Tavares
Enviado por Lili Tavares em 23/09/2008
Reeditado em 09/03/2015
Código do texto: T1192793
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