A 3º e ultima carta de uma enferma

Paris, 31 de agosto de 1998.

Querido Henry

Estou de volta a Paris, os médicos acharam por bem que eu voltasse para a capital onde os hospitais são melhores, passei os últimos 6 dias internada no dia 26 tive outra crise, foi a pior de todas, fiquei dois dias desacordada, papai achou que eu tivesse entrado em coma, mais graças a Deus estou bem, tão bem que tive alta ontem a tarde, passei uma noite tranqüila, sem dores nem falta de ar, fazia tempo que não dormia tão bem, há três dias que não tenho crise nem nada, sinto-me como se estivesse curada, hoje pela manha estive muito disposta, tanto, que tomei café no jardim com papai, ele me pareceu mais velho acho que a preocupação comigo nesses últimos dias o envelheceu 10 anos, ele esta muito abatido, agora a tarde fiz um gostoso passeio de barco com ele, eu lia enquanto ele remava, lembrei de nos dois e de quantas vezes passeamos assim, um festival de lembranças passaram por minha mente, lembrei de como lhe conheci em Berlim chovia muito e você quase me atropelou com sua motocicleta lembra? Eu cai e vc veio como um anjo protetor dar-me a mão, quando olhei nos seus olhos pude ver que vc era o amor da minha vida toda, nos amamos muito e também nos divertimos muito, foram viagens, passeios, banhos de chuvas, banhos em chafarizes públicos, teatros, museus, acampamentos, fizemos de tudo um pouco foram um ano e seis meses muito intensos, até eu saber que estava com essa doença que me consome cada dia mais, já se passaram sete meses desde que eu a descobri, tudo mudou em minha vida, você teve que ir para a Holanda e essa distância me mata ainda mais, mesmo assim, ter você é o que ainda me mantêm viva e sentir o seu amor mesmo que de longe.

Como esses últimos dias estou me sentindo ótima papai e amelie estão rindo a toa, Amelie até me comprou um belo vestido para que eu saísse com ele do hospital, ele é rosa claro com algumas flores bordadas, muito bonito você iria gostar, ela ate disse que vai comprar outro, mais não queria que ela se empolgasse tanto, algo me diz que essa repentina melhora, tratasse daqueles dias que precedem a morte de qualquer enfermo, não sei porque mais sinto isso cada vez mais forte, por isso estou vivendo esses dias como se fossem os últimos, tenho aproveitado para ficar perto do papai e de Amelie, queria que eles ficassem bem quando eu partisse, também quero que você fique bem e não precisa chorar porque eu vou esta mais perto ainda de você, quando eu parti nada, nem distância nenhuma, me impedira de ficar junto de você e espero que você consegui me sentir, farei o maximo de esforço para que vc me sinta por perto, pq nem mesmo a morte vai destruir o amor que sinto por você e vou ficar te esperando, mesmo que você só parta desta vida quando estiver bem velhinho, mas, eu estarei lhe esperando pra vivermos esse tão grande amor.

Não quero dormi, mais o sono me consome, não sei se irei acordar amanha, só sei que te amo muito e sempre vou te amar.

Beijos

Da sua menina, Mabelle

Lili Tavares
Enviado por Lili Tavares em 22/09/2008
Reeditado em 09/03/2015
Código do texto: T1190583
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