Cartas de uma enferma

Paris, 12 de julho de 1998.

Querido Henry

Hoje esta um dia bom aqui em Paris, acordei mais disposta e pude pela manha fazer o nosso tradicional passeio nas margem do rio Sena, mais as arvores de folhas alaranjadas não são tão belas quanto quando você estava aqui, alias nada mais em Paris esta tão belo, creio que possam ser meus olhos que só enxergam a beleza de qualquer lugar através dos seus, por isso venha logo me ver. A tarde senti-me indisposta novamente a enfermeira achou por bem que eu não saísse, ótimo assim pude por em ordem algumas fotografias, cada foto me trazia uma boa lembrança, lembra daquelas que tiramos nos jardins e espelhos d’água do Trocadeiro da Torre Eiffel era verão, e você me convenceu a tomarmos banho no chafariz parecíamos dois meninos de rua, também vi aquelas fotos que tiramos no hall central do Centre George Pompidou numa exposição faraônica de esculturas, você parecia criança quase fomos expulsos quando você ultrapassou a barreira de proteção para tirar uma foto ao lado de uma escultura, nossa quantas aventuras tivemos aqui em Paris.

Daqui a dois dias será feriado “la date nacionale" da queda da Bastilha é o principal feriado francês, lembra que uma vez fomos a um baile no corpo de bombeiros, tenho as fotos aqui, esse ano eu não irei os médicos me recomendaram passar alguns dias fora de toda essa agitação que é Paris, Amelie já resolveu tudo iremos para Menton na Riviera Francesa, quase fronteira com a Itália, ela disse que é uma cidade pequena e muito charmosa, para mim pouco importa será apenas uma cidade qualquer onde eu poderei esperar a morte chegar, ela diz que falo bobagens que logo ficarei boa, que é preciso ter fé, eu finjo concordar para deixá-la mais animada, Amelie é um anjo em minha vida, sem ela não conseguiria segurar essa barra, ela esta sempre comigo até mesmo quando fico insuportavelmente ransiza, ela me atura e me entende, ultimamente então tenho tido constante variações de humor os médicos dizem ser devido a medicação forte que vai passar que tudo vai passar, mais eu sinto que eles dizem isso para me confortar, sei que no fundo nem mesmo eles tem esperança, as vezes penso que o melhor é parar com tudo, remédios, tratamentos tudo, e viver meus últimos dias em paz, mas Amelie tem tantas esperança que eu fique boa que acabo me obrigando a seguir com tudo. Bom mais chega de falar em doença, quero saber noticias suas, quando você vai vim? Sinto tantas saudades que chega a apertar meu peito. Tenho lido seus e-mails mais espero uma carta sua você sabe que adoro enviar e receber cartas.

Vou terminar por aqui, tenho uma consulta logo mais, os médicos vão avaliar se posso mesmo viajar agora, alguma vez você imaginou que um dia eu precisaria de autorização medica pra viajar? Logo eu que sempre viajei tanto, mais o que fazer, é a vida, lembra a frase que vc me disse um dia, ‘’ a vida é como uma onda que leva o passado para o fundo do mar é nos imunda com novas experiências’’, essa frase faz todo o sentido pra mim agora, só que essas novas experiências nem sempre são boas não é mesmo.

Ficarei no aguardo de noticias que espero que cheguem brevemente, lembre-se que o tempo não é mais tão aliado para comigo, e espero também sua visita para que posso voltar a ver beleza em tudo, se pudesse eu mesma iria ao seu encontro para te surpreender como tantas vezes fiz, mais não me encontro em condições, por isso espero por você.

Até logo

Mil beijos

Sua menina.

Lili Tavares
Enviado por Lili Tavares em 18/09/2008
Código do texto: T1184145