A VERDADE SOBRE AS ELEIÇÕES NA ARL
A VERDADE SOBRE AS ELEIÇÕES NA ARL
Waldomiro W. Peixoto (*)
"Sei que o meu trabalho é uma gota no oceano, mas
sem ele, o oceano seria menor”. (Madre Teresa)
Quando fui empossado na cadeira 22 da ARL, há cinco anos, afirmei que não me renderia aos moinhos de ventos e olharia para eles como quem olha para a doce Dulcinéa. "O grande homem é aquele que não perdeu a candura de sua infância", diz o provérbio chinês, mas não pode arrefecer frente aos problemas que surgem por maiores que sejam. Também eu afirmara, durante a posse, que o acadêmico não poderia ser maior que a Entidade que o acolhe. Por isso, essa carta aberta.
Tendo em vista o momento pelo qual atravessa a ARL, penso ser apropriado transcrever pequeno trecho do discurso: “A chegada de novos acadêmicos não pressupõe renovação; antes, é mais um que vem beber na fonte da tradição para, realimentado, encontrar forças de construir, o que dará ensejo a fortalecer o que plantado está e, há décadas, dando frutos. O novo não pode – não deve! – fazer a função do Mata-Pau de que tão apropriadamente nos fala Lobato em conto homônimo... Antes, o novo deve fazer a função adicional do adubo e transformar-se em seiva e suculentos frutos da centenária árvore. O novo pode ser o fruto, mas não pode ser a árvore.”
A propósito de quê, coloca-se isso em carta aberta? Por conta dos acontecimentos que antecederam e nortearam a disputa para eleição da nova diretoria da ARL e que resultaram em profunda injustiça com a pessoa e o trabalho de uma década do professor e escritor Antônio Carlos Tórtoro, vencido no pleito pelo professor e escritor Menalton João Braff, que assume, legitimamente, o próximo biênio da ARL.
O trabalho realizado pelo presidente ACT foi notável, tirou a ARL de um âmbito extremamente restrito e lhe deu visibilidade como nunca teve em sua história. Nas palavras do próprio ACT, eis um breve balanço de sua atuação frente à ARL: “Assumimos em fevereiro de 1996, quando a ARL tinha o mesmo problema histórico de hoje: freqüência mínima e inadimplência absurda. Mas conseguimos fazer com que a ARL fosse conhecida em todos os Estados do Brasil através do site que criamos e mantemos atualizado (www.arl.org.br). Lutamos até conseguir um lugar onde sepultar nossos mortos: o Sepulcro Veiga Miranda, no Cemitério da Saudade. Realizando o mais importante sonho da ARL, adquirimos um terreno para construção da Sede própria, no Parque dos Lagos. Comemoramos os 50 anos da ARL com um jantar memorável e lançamos uma Antologia comemorativa por ocasião dos 55 anos de existência do nosso Sodalício. Criamos a ARE-Academia Ribeirãopretana de Educação, em 2002. Atualizamos sete anos de Imposto de Renda em atraso e não declarados. Criamos uma bandeira bordada (a anterior era um simples pano roto já deteriorado). Compusemos o Hino da ARL. Adquirimos arquivos e armários para guarda de documentos (que sobraram e puderam ser salvos do abandono em que se encontravam). Organizamos pastas individuais para cada membro (vivo ou falecido e honorários correspondentes – que não existiam). Criamos um arquivo de álbuns de fotos de todos os eventos importantes e uma videoteca com registro das posses. Fizemos visitas de solidariedade a acadêmicos enfermos. Gravamos, eu e o saudoso Roveri, entrevistas para o rádio, programas radiofônicos semanais, com grande audiência; enfim, nunca deixamos de homenagear — e de reconhecer o trabalho prestado —, àqueles que, de alguma forma, deram parte de suas vidas à História da ARL, que se confunde com a de Ribeirão Preto.”
Não é verdadeira a informação da Chapa Renovação, em carta assinada por Menalton Braff, Edvard Pereira, Geraldo Maia Campos, Marcos Zeri Ferreira, Feres Sabino, Sérgio Roxo da Fonseca, Amini Boainaimn Hauy e Divo Marino, que a confreira Rosa Maria Cosenza foi tratada de traidora por se ter desligado da Chapa Raya – Rovéri. Por quê? Porque ela sempre foi ouvida durante as reuniões da ARL, sempre foram respeitados seus pontos de vista de forma democrática, até porque não poderia ser diferente por se tratar de intelectual de grande peso e de forte atuação cultural junto à comunidade riberãopretana. Ela, espontaneamente, tomou a iniciativa de se afastar da Chapa Raya – Roveri e foi respeitada em seu posicionamento. É verdade que causou estranheza tê-lo feito apenas nove dias antes do pleito e isso, sim, inevitavelmente suscitou comentários pelo inusitado da decisão. Mas pára por aí; o restante é especulação. A confreira já havia anteriormente escrito, em sua coluna Ponto de Encontro, forte e contundente artigo sobre ACT, de grande repercussão no meio acadêmico, o que pode ter deflagrado esse clima de animosidade, condenável sob todos os aspectos entre pessoas supostamente importantes para a fomentação da cultura de uma cidade.
Quanto à consideração feita por ela de que a administração da ARL era muito burocrática, é importante deixar claro que ela, como acadêmica atuante, pode ser considerada co-responsável, uma vez que ela, além de rigorosa e crítica com os estatutos da ARL, exigindo tudo a seu tempo e ordem, nunca foi impedida de desenvolver atividades culturais nos mesmos moldes que, agora, a Chapa Renovação propõe. Por que não o fez se tinha apoio de todos os confrades, inclusive deste que ora escreve? Será que sartreanamente o demônio é mesmo o outro?
Pelos acontecimentos e condução da campanha da Chapa Renovação, também o acadêmico e jornalista Marcos Zeri Ferreira comungava com as idéias e pontos de vista da confreira Rosa Cosenza. Para, então, tornar a ARL menos burocrática, a ele foi atribuída a função de Coordenador Cultural para promover os eventos que, agora, a Chapa Renovação colocou como mote de campanha. A idéia não é, portanto, original. Se levada a efeito, realmente resultará em renovação no jeito de fazer academia. Marcos Zeri, investido da responsabilidade de provocar eventos dentro da ARL, não conseguiu levar nenhum palestrante para realizar os tais eventos. Foram convidados para participar dos ‘momentos culturais da ARL’ – e aceitaram! – os acadêmicos Sérgio Roxo, Divo Marino e Saulo Gomes. Mas nenhum deles compareceu! Na verdade, deixaram a esperá-los os acadêmicos presentes à reunião. Tendo em vista tais ausências, cogitou-se até de se fazer um plano B de momentos culturais, para não frustrar os presentes quando um convidado faltasse. Os poucos eventos que aconteceram, como por exemplo, as duas palestras argutas e apropriadas sobre linguagem da propaganda e poesia de Manuel Bandeira, proferidas pela Acadêmica da ARE, Marilda Franco de Moura Vasconcelos, não foram iniciativas do Acadêmico Marcos Zeri. Quem sabe, participando agora da Renovação, possa ele, premido pelos compromissos de campanha, realizar os tais eventos para tornar a ARL menos burocrática e mais fomentadora de idéias e debates, como ele mesmo tem afirmado nos bastidores.
Quando ACT reclamava da ausência e omissão da maioria dos acadêmicos, ele reclamava, em uníssono com os antigos presidentes, do mesmo abandono que sentia(m). Nos anais da ARL, há documentos fartos que comprovam repetidamente essa angústia da solidão e do abandono por parte dos acadêmicos. Não há o que contestar. Eu participei de todas as reuniões da ARL desde minha posse, em novembro de 2000, mesmo morando em Marília, a quase trezentos quilômetros de Ribeirão Preto, e sempre vi presentes os mesmos acadêmicos, apesar do forte apelo de ACT conclamando todos a participar. Ele sempre reconheceu a participação dos que, não podendo comparecer fisicamente, contribuíam de alguma forma ou de outra. Cito alguns nomes, participativos, sem a necessária presença física: Cônego Arnaldo Padovani, Dr. Feres Sabino, Prof. Nicolau Spinelli, Dr. Rubem Cione, etc. Registro um exemplo de acadêmico, compromissado, soberbamente acima de vaidades pessoais, que deve servir de modelo: Dr. Alfredo Palermo, de Franca. Portanto, o argumento da Renovação de que “Jorge Amado, residente em Salvador, jamais poderia ser membro da ABL” é uma falácia, um jogo de palavras, descabido, porque nunca foi assim considerada a ausência por ACT. Isso é colocar palavras e idéias na boca e mente dos outros, típico de pessoas capciosas que se comprazem em manipular informações em proveito próprio.
E mais: ausência é diferente de omissão. Quando ACT fala de “um grupo que abandonou a academia” e que só poderiam “apresentar uma folha em branco”, obviamente ele não põe em dúvida o trabalho importante que cada um dos confrades realiza em prol da cultura ribeirãopretana. Julgar assim é fugir do contexto em que a afirmação foi produzida. Ele cita-os como “ausentes contumazes” no âmbito exclusivo da ARL, porque esses acadêmicos não só não comparecem como – poucos justificadamente por saúde e idade – não cumprem seus compromissos nem financeiros com o Sodalício. São “ausentes contumazes”, sim, incontestavelmente ausentes. Omissos. Lança-se um repto para que provem o contrário dentro do âmbito da ARL. Quem contestar haverá-de?
A correspondência da Chapa Renovadora também fala da “volatilidade do seu (de ACT) caráter”, porque ele afirmara não participar da eleição e voltou atrás. Ele voltou atrás porque os acadêmicos presentes neste dia pediram que o fizesse. Cito alguns dos presentes que pediram sua recandidatura: eu, Ely Vieitez, Antonio Ruffino, Nilva Mariani, Alexandre Azevedo, Rita Mourão, Wilson Salgado, Caliento, o próprio Zeri e Saulo Gomes que trabalharam pela Renovação (a consulta à correspondente ata identificará os demais nomes que me fogem à memória). Um homem aguerrido e guerreiro, dedicado completamente durante dez anos de sua vida às causas da ARL, ser tachado de caráter volátil é no mínimo desrespeitoso, injusto com toda certeza. Pode-se concordar ou não com seus pontos de vista, mas considerá-lo de caráter volátil é absurdo, descabido, e tal consideração só pode sair da mente de alguém que, nunca estando presente, julga equivocadamente o trabalho e a conduta dele. Os telefonemas animosos, sem ética e cheios de maledicências, feitos no sentido de cooptar votos, as articulações espúrias e às escondidas, os artigos virulentos e desnecessários colocados na imprensa, atestam muito mais a falta de caráter do que o fato de ACT ter voltado atrás a pedido dos acadêmicos acima mencionados.
O acadêmico Feres Sabino, homem de letras, culto e inteligente, extremamente competente para esgrimir palavras, conceituado homem público, em artigo publicado na Tribuna, reforça inverdades veiculadas na imprensa sobre ACT e batiza, em flagrante contradição, os acadêmicos em “ausentes” e “presentes”, classificando a administração da ARL de maniqueísta. Maniqueísta?! Quem? É só reler a matéria “Da eleição da ARL”, de sua lavra, para tirar as conclusões sobre quem foi maniqueísta. Ele afirma que a administração de ACT “não foi suficientemente transparente” e nem “suficientemente aglutinadora”. Mas os apelos à participação de todos foram tantos, as correspondências aos acadêmicos a mancheias, os atos da ARL fartamente documentados, a divulgação do Sodalício rompeu fronteiras pela Internet! Era preciso mais? Nunca se mostrou tanto, se fez tanto para a ARL aparecer e fomentar cultura! A nova diretoria poderá, agora, fazer esse exercício de ‘mais transparência’ e de ‘mais aglutinação’. Eis a oportunidade. Todos devem meter mãos à obra. Palavras sábias as dos últimos parágrafos do artigo do confrade Feres Sabino; pena que na prática elas costumeiramente não se concretizam. “Words, words, words”, teria dito o lábil e difuso Hamlet para confundir o cortesão. Quem sabe, com a nova diretoria, as palavras se tornem realidade, se tornem atos concretos. Quem sabe a nova diretoria fará mais e melhor. Vamos aguardar.
A Renovação deve ter dois compromissos: cumprir o que prometeu e restaurar a verdade sobre os dez anos de administração ACT, bem como reparar o grave erro de colocar seu caráter ilibado e irretocável em dúvida. Como a nova diretoria coloca, “tratar com urbanidade e respeito todos os confrades” precisa ser praticado de verdade, em todas as instâncias.
Como afirmei em novembro de 2000, não me renderei aos moinhos de vento e olharei a todos os acadêmicos com ternura, sem perder a “candura da infância”. Espero, firmemente, que a justiça se restabeleça e que os dez anos de administração de ACT, dos quais participei assiduamente cinco, sejam vistos, com a justiça que merece. Apenas com a justiça que merece, nada mais.
A amizade e o respeito que me unem ao amigo Menalton, agora nosso presidente, me intimam a continuar colaborando com a ARL em tudo que puder. Faço dessa Carta Aberta meu compromisso público. Os eventos culturais dependem de organização, de disponibilidade para realizá-los, de recursos financeiros, de participação... e também de burocracia. Aguardemos!
Desejo encerrar esta carta aberta com as sempre proféticas palavras de Camões, quando o que se propõe é a velha renovação do que foi feito, mesmo que isso contrarie a sabedoria de Eclesiastes: “Cesse tudo o que a Musa antiga canta, que outro valor mais alto se alevanta".
Waldomiro W. Peixoto
Cadeira 22 – Patrono Veiga Miranda