Saudades, Pai!
Hoje faz um ano que Deus levou aquele a quem aprendi a
chamar de Pai. Nesses últimos meses, sentia a dor do
primeiro dia dos pais sem a sua presença, o primeiro
aniversário, primeiro Natal...
Os almoços em família perderam muito do encanto sem a sua
tradicional macarronada, (e aquele molho tão ralo)eu e meus
irmãos comentavamos (e riamos escondido, claro) a sua total
inabilidade com massas.(mas fazia saladas maravilhosas!)
*Tomate demais faz mal! Dá gastrite! Ele dizia, sem o menor
amparo médico, mas tudo bem. O “Paizão” sempre tinha razão!
Riamos tanto com ele, aprendíamos tanto!
Mesmo no hospital, nas idas e vindas constantes enquanto
lutava contra o mal que acabaria por levá-lo, ele fazia
piada de tudo, brincava com as enfermeiras, ria de sí mesmo
como só os fortes sabem fazer...
De Nosso Pai, passou a Nosso Filho, e cuidamos dele com
carinho redobrado. Ajudando no banho, a fazer a barba, a
vestir-se, a comer a “comida sem graça do hospital”
Juntos víamos os noticiários, líamos todos os jornais,
líamos muito a Bíblia. Ficavamos em longos silencios, ou
conversávamos, e eu tentava falar de futuro, dar-lhe
esperanças, mas ele queria lembrar o passado...
Estava em Paz com a Vida e com Deus, cumprira seu papel de
marido e Pai, Magistralmente, e talvez sentisse sua hora
chegar. Não o deixava ver-me chorar, mas como chorava!!!
Vê-lo ligado a tantos aparelhos, era uma dor insuportável!
Numa tarde, sai um pouco do quarto, enquanto a enfermeira o
livrava de alguns aparelhos que usava, e fui chorar no
corredor, apoiada a parede. Chorava de alivio pela retirada
das horríveis sondas, porque ele poderia alimentar-se
melhor, chorava também de cansaço e desespero.
Sabia que estava perdendo um Pai pela segunda vez...
E “este” era muito especial! E este Eu havia escolhido!
Nunca me senti tão órfã e desprotegida, como naquele dia...
Sem que eu percebesse, ele veio ao meu encontro, passos
lentos, eu de costas, não o vira, mergulhada na minha
própria dor. Colocou a mão no meu ombro e disse:
“Tita, você está chorando?” Olhei para ele,e só pude dizer:
“Pai, faz tanto tempo que você não me chama assim!”
Nos abraçamos, sufoquei minhas lágrimas, e sorri...
(Por dentro gritava!) Que o amava, que não me deixasse,
porque eu precisava dele! Todos nós precisávamos!
Mas calei-me... Beijei seu rosto e reconduzi-o ao quarto.
Pude lhe falar do meu amor, muitas outras vezes, mas com
aceitação. Sabendo que em nosso egoísmo,queremos manter
nossos entes queridos para sempre conosco, e muitas vezes
isso os faz sofrer muito. Entreguei-o nas mãos de Deus.
E Ele fez a sua vontade. Pouco tempo depois, meu Pai partiu.
Serenamente, sem dor, adormecido em seu lar, na companhia
daquela que era mais que uma esposa: Era sua companheira
em todos os momentos da longa caminhada.
Deixou em nós um vazio e uma saudade que só o tempo poderá
amenizar, mas deixou também todas as suas lições de vida,
de esperança, seu exemplo de dignidade acima de tudo!
Sinto orgulho de dizer: "Meu Pai Era Um Grande Homem..."
"Obrigado Paizão! Por tudo que você representa para mim...
E por ter feito de nós a tua Família!
Tua Filha, Tita
(Saudades Pai...) "