Amado
Amado, como posso eu explicar o que acontece por agora?
Não sei. Pensei eu da vida saber tudo, ter vivido tudo, ledo engano.
Tudo é novo, uma tela em branco, porque tudo é paz, ainda que a lágrima brote em meus olhos, role pela minha face, não há tristeza. Ainda que meu coração se assemelhe a um tambor festivo, ainda que borboletas voem por todo meu estomago. Ainda que os dias sejam mais lindos, ainda que eu não saiba muitas coisas, tudo é paz.
Vou vivendo cada ato, cada gesto, cada toque, cada respiro, cada silêncio, cada gemido. Confusa, porque até aqui tinha certeza de tudo. Continuo sendo dona de mim, das minhas vontades, mas vejo brotar algo que não se controla, simplesmente me invadiu, não pediu licença, não mandou recado.
Estou aqui, à mercê de um sentimento passional, invasor, arrasador, mas que me traz paz. Estou aqui à mercê do medo de me entregar a esse sentimento, de não vivê-lo por inteiro, mas até nisso tenho paz.
Você vem de surpresa, me gela as mãos, mas mantém quente meu coração. Como são longos os dias, como são frias as noites vazias.
Nem o sol consegue ser teu concorrente, posto que seu calor me incendeia, me alivia, me torna languida, imóvel nos teus braços, que me roubam a fala, e minha mente inebria.
Amado, os dias passam, a saudade aumenta. A distância é um tempero que começo a experimentar. Meu corpo reclama o teu, transforma essa ausência em gotas. Gotas que vertem de meus olhos transbordos de saudade para aliviar o coração, e não perder a razão. Gotas que vertem salgadas, levemente adocicadas, tentando o gosto do teu corpo imitar, transpondo a saudade que insiste em mim habitar.
Meu amado, infinitos são os dias, tal como as noites gélidas, sem sua presença. Vem depressa me aquece, faz calar meu pranto. Traz junto seu abraço que me envolve e transporta, seus beijos que me adoçam.
Responda-me se puder, ainda que seu silêncio me fale tantas coisas, de onde surgiu tudo isso? De onde vem tanto amor? Que tipo de amor é esse?