Às flores e pedras anônimas

Bateram à minha porta, como se nada quisessem. Às vezes jogam pedras de propósito para ver se o telhado de casa esburaca e têm ocasiões que encontro flores no meu portão. Deixaram um bilhete na caixa do correio, me perguntando se eu escreveria um verso ou uma prosa sobre a existência de Deus.

Que assunto! Como nenhum homem é uma ilha, aqui respondo pensando em Descartes:”Se eu existo, sei que sou imperfeito. Mas a idéia de imperfeito implica a de perfeito, logo deve existir um ser perfeito e esse ser é Deus”. Infelizmente o nome de Deus tem se transformado em  “carne de vaca de quinta” se cada um quiser ficar no seu quadrado sempre existirá alguém que deseje ficar em um triângulo... 

Assumo que vivo mergulhada no interior de uma Energia inexplicável e se esta Energia não existe por que incomodaria tanto?

Em toda terra brota aqui e acolá um filho, alguns sem chão, outros sem teto, outros com um teto ou uma quantidade de adubo enorme por demais... enquanto outros desconhecem a origem de seu DNA... há o fato de existir a acefalia, mesmo que esta seja parcial isto não quer dizer que não exista uma Essência transitando nesta história: “vivemos, nos movemos, somos”, concordo em parte com Berkeley.

O reflexo de Deus preserva mais a destruição ou a construção? Depende do referencial. 

Não adianta ser muito materialista, muito espiritualista ou muito idealista... muito isto ou aquilo sempre será demais.
A realidade neste bê-a-bá... é: não adianta discutir com rótulos.

Se o  futuro é um enigma que bate a nossa porta... não acredito que esta Energia seja dona de mim, simplesmente porque não sou propriedade de meus pais. 

Interessante é fazer parte de Algo, que não se tem ao certo nenhuma dimensão concreta do que seja. Somos minúsculos e enormes conforme nossa flexibilidade nos permita enxergar.

Existem momentos em que pais e filhos se confrontam em um diálogo difícil, indigesto, quase venenoso, porém mesmo assim cada qual seguirá as cores traçadas de seus próprios caminhos, entre o: engolir e o cuspir. Será que as pessoas respeitam as opções das outras? Ou somente se encontram ou se controlam quando se deparam com um “ser aparentemente igual”, pois bem já fui mineral, vegetal, elemental... animal e demorei um bocado para alcançar este estágio, um dia virarei novamente “borboleta” (sem retroceder porque não sou como certos indianos que acreditam piamente que irão retornar na forma de algum animal) e tão pouco sou adepta aos fenômenos de licantropia. 

O mais interessante disto é que não sinto raiva de quem não acredita no que o homem chama de Deus, mas percebo o desenvolvimento da revolta de quem não crê Nele dirigindo doses de ira à Criação. O mundo está repleto de pessoas que vivem brigando consigo próprias no espelho, me pergunto até que ponto gostam de si mesmas...? Tem gente que gosta de se machucar, não sei o porquê. Só posso dizer que pouco entendo do que é estar contido no Nada... onde Tudo não é só o imaginário. Tudo depende de como se apertam os calos da humildade equilibrada, meu irmão em essência, se a sua curiosidade chegou até estas linhas finais... finalizo “o papo” com: 

Se Deus “finge” que não nos vê... será que não seria para que saibamos andar sozinhos? 

Sim, existem algumas perguntas que são cansativas, enquanto outras podem gerar náuseas ou não... neste hospital-escola.

Rosangela_Aliberti
São Paulo, 31.VIII.08
Foto de origem desconhecida

audio: Stairway to Heaven live (Rodrigo y Gabriela)
http://www.youtube.com/watch?v=vNc5o9TU0t0