Ganhar e Vencer

Prólogo:

Claro que se trata de uma carta (texto) fictícia. É certo, no entanto, que a mais notável aluna se identificará no contexto.

Não se trata de uma carta de despedida, mas sim de uma preparação para o insofismável. Como sabemos a morte do corpo físico é certa para todo ser vivo.

Quero dedicar esta carta a uma aluna especialíssima; uma criatura tão notável quanto se pode perceber em uma pessoa magnânima. Para retratá-la, com poucas palavras, eu escrevo sem medo de errar:

"Ela é a essência do que se pode imaginar em uma complexidade feminina. A perfeição nela sobeja porque possui com naturalidade: amor, discrição, inteligência, beleza, requinte, formosura e encanto feminil".

Querida e notável aluna,

Não desejo ganhar apenas tua confiança, respeito e valorosa atenção, também quero vencer tua resistência, teus medos e receios sobre o porvir desse relacionamento controverso e não aceito pelos falsos moralistas. Enquanto quiseres nossa solidez de propósitos fortalecerá o elo do que está amalgamado em uma só intenção: suplantar nossos anseios!

Mais cedo ou mais tarde receberei um chamamento divino e por isso sumirei de tua vida assim como tu te foste de mim, no meio da noite, entre lufadas cortantes e chuva pertinaz em um sonho recente e dantesco, após uma entrega incondicional, sem lindes ou receios.

Não houve tempo para nada! Não nos despedimos, não trocamos sequer um olhar, um abraço, um sorriso. Não gritamos o quanto estávamos padecendo em nome de uma pretensiosa, sofrida e malfadada expiação. Não disseste ao menos: ”Adeus”.

Quando eu desencarnar talvez não seja de modo tão brusco. Peço-te assim mesmo: não sintas saudades de mim! Controla tuas emoções e tenhas como primeira e grande lição, dentre outros ensinamentos que te proporcionei, o fato de que controlando teus medos haverás de ganhar e vencer porque estarás a passos largos caminhando para o crescimento interior, usufruindo do sagrado direito de ser gente.

Morri, despojando-me do corpo físico, agora inservível, mas estarei sempre ao teu lado, pois mesmo que não me vejas, não te sendo isso ainda permitido, poderás sentir minha presença no balouçar das folhas de uma árvore, pela brisa morna da tarde que, debalde, tenta afugentar a noite lúgubre; nas palavras mansas dos que te querem bem (refiro-me aos familiares: esposo, filhos e, principalmente, pai, mãe, irmãos e demais parentes consangüíneos); no sorriso inocente de uma criança; no afago gentil do filho que, aos poucos, perceberá tua transformação; no vôo majestoso de uma gaivota ou de um condor, que muito cedo aprendeu a voar; no perfume sutil da terra molhada pela chuva benfazeja; no meigo olhar que tu mesma podes ver ao se mirar em um espelho que reflita apenas um pouco de tua beleza angelical.

Poderás, enfim, sentir minha presença nos momentos de festa ou de dor, quando na alegria beberei teu sorriso e na tristeza enxugarei tuas lágrimas com a mesma camisa que darei de presente a um órfão e menino de rua, para abrigá-lo da frialdade da noite sem-fim.

Mesmo a distância quero ser teu guia, tua luz e teu forte cajado. Aonde quer que vás poderás evocar-me para lenir tua dor e nos momentos mais aflitivos serei o sopro que representará o oásis no vazio da vida tórrida, errante, que teu espírito tenha, por ordenamento superior, de enveredar para se aperfeiçoar.

Meus ensinamentos serão o sussurro subliminar permanente em teus sonhos com o propósito edificante de enaltecer tua merecida paz.

Ensinar-te-ei a ter liberdade para sonhar e fantasiar com as loucuras mais lúcidas, fazendo uso racional de tua privacidade; a dividir preocupações; a somar forças com queira caminhar contigo em uma mesma direção; a compreender a fraqueza, insensibilidade e atraso de quem estiver em tua volta; a não deixar nunca o desânimo contagiar tua vontade; a acreditar em teus sonhos para realizá-los sem receio da culpa, sem pejo do ridículo ou empáfia típica dos vencedores.

Após esse aprendizado serás capaz de poder alçar vôo nas asas dos melhores pensamentos, de ver, através das janelas da alma (refiro-me aos olhos), a linda rosa existente em um deserto estéril e sem perspectiva de vida. Terás luz própria.

Nessa ocasião poderás sentir a alegria de se elevar muito acima do mundo material e suas preocupações mais simples; poderás permanecer no céu por quanto tempo quiseres, através da noite, pelo nascer do sol; e quando desceres do paraíso de tua imaginação tuas perguntas terão respostas e teus conflitos darão lugar a paz tão sonhada, tão sofrida e tão justa.

E nesses momentos, mais do que nunca, eu estarei junto a ti! Embora, ainda, não me possas ver, nessa ocasião, um frêmito à semelhança de um sopro quase imperceptível, que te causará indescritível, mas prazerosa lassidão indicará minha presença.

Nesse lapso de tempo uma chama azulada enternecerá tua alma e essa luz emitida tocará teu espírito fazendo-te lembrar meus olhos langorosos, cerrando as pálpebras com preguiça, como amortecidas por insônias ou prazeres excelsos por ti sublimados, na alcova e sonhos mais lúcidos, para confirmar ser eu apenas saudade.