Cachorro na chuva
Queria ser este cachorro belo que logo será atendido do melhor a lhe ser preparado. Não tarda.
Esta garrafa térmica sendo lavada de má-vontade, mas com esmero. Os copos e xícaras com responsabilidade e minúcia.
Queria ser esta coberta dobrada e colocada sobre as outras a esperar o toque macio de suas mãos sobre elas.
Queria ser o amanhã, depois de amanhã até domingo, que estarão contigo mesmo que vente ou chova, faça tempestade. Isso! Queria ser a tempestade que te surpreendesse na porta de casa, antes de chegar ao carro; Ser o duende que esconde as chaves e te faz esperar, ter que aguardar enquanto respira, suspira e bate o coração.
Poderia ser a porta do teu quarto, tua cama e coberta eu nem aspiro, teu sonho, encontro, beijo descoberta. Menos eu mesma neste canto incompreensível, mutismo adormecido, pessoa em vida manifesta de um amor que já nasceu restrito, não fraco, nem forte o suficiente prá causar transtornos. Um amor morno, tranqüilo quieto como as manhãs de domingo longe dos parques. Sem parques, nem porquês.
Sem tristeza, alegria, anjos ou desespero.
Vontade de ir prá casa, fechar a janela, ligar o ar, abrir os olhos e me aninhar em torno de mim mesma.