Ao escritor Carlos Maranhão
São Paulo, 17 de agosto de 2008.
Prezado Carlos Maranhão
Em vida não conheci, ouvi falar. Morto fui conhecê-lo “Nos Bares da Vida” levado pela Lúcia Helena Gama. Já gostava de boemia e pude me juntar a Frederico Branco, Luis Martins, Luis Lopes Coelho e tantos outros. Ficava de sapo, só ouvindo. Nas andanças pelo Paribar, Arpeje, Barba Azul continuei de anônima presença. Tudo me encantava. Pudera! Com tanto uísque bebido, numa noite qualquer conheci no Nick Bar o Marcos Rey. Interessei-me pela sua prosa e por ruas desta São Paulo com ele caminhei sentindo a angústia do viver. Nos bares de orvalho, as garçonetes da Triumpho com seus peitos obscenos e pintura marcada, à porta ficavam espiando o vazio de suas vidas. Figurino maniqueísta. A música alta, o alarido das vozes, o galho de arruda, a imagem do santo que da prateleira iluminada tudo olhava e nada acontecia. Obstinado, freqüentei com Mon Gigolô todos os inferninhos. Levei Norma, aliás, Sandra e por fim Sylvana a todos os lugares. Vi quando o malandro Esmeraldo foi para o xilindró. Também fui à cartomante Antonieta que me recomendou cautela.
- Olho gordo, disse.
- Tome cuidado!
Até ao enterro da cafetina Beth compareci e uma bruta bebedeira aconteceu. Mas, porre mesmo tomei com Otávio que de smoking ficou a pendular no mictório de um bar lá na Liberdade e depois morreu. Apesar de tudo, o meu grande amor é a Lupe. Com certa intimidade fui conduzido para “Maldição e Glória” do Mundinho. Uma mixórdia de sentimentos explodiu, as lágrimas molharam-me os olhos e chorei. Sensibilizado prossegui no relato da saga deste Donato que com Palma se casou. O sofrimento físico, o exílio familiar e social, o escondido viver até o laço impiedoso dos homens do DPL na Marechal Deodoro foi doloroso demais. Estigmatizado, virchowiano, ulcerado dos pés, com “a morte antes da morte” diante de si, ressurge este contador de histórias, de “personagens de circulação noturna onde não precisa se identificar – basta pagar”. O cotidiano protagoniza sua extensa obra. Notei uma linguagem familiar na construção desta biografia, toda polifonia e polissemia presentes concorrem com a presentificação dos fatos que apoiados em depoimentos e exaustivas pesquisas resultaram num trabalho que transcende, exala qualidade e respeito àquele que muitas saudades nos deixou. Senti prazer em ler seu livro. O Fernando Morais tem razão, não dá para parar. Que venha o finalô e todos juntos ergamos um brinde a você escritor CARLOS MARANHÃO.
SALUD!
Paulo Lopes da Costa