JUVENAL ( cor )

JUVENAL (corregido)

Dá última vez que nos vimos já passaram quase dois anos, no dia do seu aniversário 28 de fevereiro de 1998. O convite que nos fizera, foi deveras emocionante, principalmente se tínhamos alguma diferença, julguei eu, que corrigiríamos ali os rumos do passado, muito embora, nunca tivemos oportunidade de nos esclarecer, se algumas ou várias dúvidas existiam.

Há alguns meses julho de 1999, quando você me telefonou, com a voz embargada pronunciando palavras inteligíveis, não me percebia que procurava socorro, era um desabafo, quis eu passar o telefone para Adelair, que nem estava em casa, mais você insistiu, queria falar comigo. Nas nossas securas familiares, não tivemos diálogo suficiente para continuar a conversação. Faltou a mim inteligência suficiente para falar sobre o alcoolismo, ausência da comadre Erla e outros temas, mas pré-julgava eu estar você em perfeita consciência, enganei-me já era agudo o delirius-tremis, associado provavelmente com a hipertensão, arteriosclerose, se não também uma diabetes, tão comuns nas pessoas originárias de família Leite.

Somente agora com a notícia do seu enfarte fulminante, provocando o seu desencarne prematuro é que venho recordar dos fatos acima, é claro, deixando projetar na nossa tela mental, reminiscências de nossa infância, principalmente as vividas em Anápolis, de nossas estripulias em cima dos vagões, das aventura perigosas no buracão, nos banhos pelados no Ribeirão Santana, do pequeno circo de nosso quintal ou os equilíbrios nos tambores vazios.

Foi tão rápido e gostoso. Até dos jogos de finca, bolinhas, figurinhas e peões, coroaram de alegrias o nosso passado.

Em Goiânia, passagens curtas entremeadas por uma briga por causa de ter eu usado a sua bicicleta, não me lembram mais de nada, principalmente, porque viajava eu todo sábado e domingo, você estudava de manhã no Pedro Gomes, eu trabalhava a tarde na Loteria e estudava a noite no Ginásio Municipal, é estávamos crescendo, cada um com seus afazeres, raramente encontrávamos.

Depois morando no Núcleo Bandeirante, a vida era outra. Cada um querendo viver mais intensamente a sua juventude. Disputava-mos a Rural mas sem nunca discutirmos.

Depois que eu casei, continuamos a morar na mesma casa, o respeito entre nós era grande, as suas amizades eram gente de casa. Adelair tratava a todos com muito carinho e eu confesso tive muito ciúme e brigava com ela, maltratava-a, mas não deixávamos transparecer nada, eu acho. A vida flui com muita rapidez.

Parece-me hoje, que na data do convite e do telefonema você despedia de nós. Despedia de mim.

Vejo agora que somente a morte nos chama atenção para a nossa fragilidade.

Mais uma vez ouço ainda o seu inesquecível:- “Não tem importância...", mas agora sim eu acho que tem importância sim, você desrespeitou a lei natural das coisas, foi primeiro do que eu, nem lembrou que eu sou o mais velho e você tinha que me esperar ir primeiro.

Nós que nos comunicamos muito pouco, depois de minha mudança para Goiânia, raramente, nada. Mas temos hoje um canal de comunicação entre nós, é o canal das minhas orações; poucas, mas com muita sinceridade.

Desculpe-me por tudo, pelo mau irmão que fui, mas lhe confesso por tudo que fizemos juntos, e que deixou muita saudade.

Goiânia, 10 de dezembro de 1999.

JURINHA

jurinha caldas
Enviado por jurinha caldas em 15/08/2008
Reeditado em 28/02/2011
Código do texto: T1129713
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