O conselho e o beijo

Ainda és jovem e o tempo voa a tua volta como se fosse teu aliado nas descobertas do mundo. Disso estás convencido...

Estás incendiado pelo desejo de tantas possibilidades que se abrem cada vez que te empenhas no acordar de um dia novo, seguido de promessas, trabalho e fartura providos pelo dia anterior. Lutaste tanto por isso...

Não, não há o que te salve deste inebriante começo se assim prosseguires, meio cego ao que te circunda, clamando sem palavras, por tua atenção e teu serviço. Por isso, escuta...

Não, não há como te recompensar pelas perdas do passado, ainda tão presentes em tua busca insana por algo que te pertence e que ficou na história, que te tortura e cria meios ao teu crescimento interior rumo a seres melhor do que foram contigo. Para isso há o perdão...

Ainda há tempo, posto que és jovem, de redirecionar teus olhos para onde aponta um coração boicotado pelas benesses carnais e mundanas de uma vida recheada de sonhos que se concretizam com o poder de compra e se auto consomem num minuto ou dois. É preciso estar atento, velar pelo que importa...

E se o tempo se faz precioso aliado para tantas conquistas temporárias, é o algoz de outros sonhos e conquistas que se perdem pela ausência latente de um objetivo mais sólido e etéreo, que só à alma é permitido - o saber do espírito para chegar à essência de ti, que desconhecida, confunde-se na escuridão da descrença e da distância de Deus. Orai e vigiai...

O conhecer-se lateja em ti ainda silente, assim como eu, espero pacientemente, que o brilho fugaz que te inebria hoje te canse ou se esgote na dor das perdas irreparáveis que inevitavelmente nos aguardam numa esquina ou outra do caminhar pela vida. Não há saída, tuas respostas mais procuradas encondem-se dentro de teu peito lacrado e machucado pelo medo da simplicidade que te reporta ao descuido de quem te amou às avessas e sem preparo. Para isso existem anjos...

Este tempo passou, agora és um homem, capaz de reescrever para ti um futuro que abrigue a tua doçura sem precisar que devolvas o conforto aos teus pés, é tua conquista!, e eu daqui te sigo orgulhosa, e temerosa sempre, para que teus passos sejam gentis com a natureza e teus atos generosos com os corações dos que te cercam, dos que te amam (ou amarão) à distância e sobretudo de teu próprio. Cuidado contigo...

Cuida bem da escrita de tua história hoje, porque ela te proverá com memórias quando da vida que conhecemos não muito mais houver, e a mim, de onde estiver, abastecerá de alegrias na certeza de que vale à pena amar e educar um filho - para sempre, para a vida.

Para ti meu beijo e um conselho: não abre mão de ser feliz!

Anadijk

Houten, 12/ago/2008

ps. a um sobrinho que aos poucos se transformou em filho.