AZRAEL

Um anjo nasceu de um beijo impróprio de um Deus. Querendo ou não ele saiu. Dor e prazer lhe trouxe ao mundo. Suas asas não haviam saído e ele não sabia chorar.

Chorei por ele então. Tão belo era o anjo que a dor não lhe procurou, talvez porque o que lhe faz mover os sentimentos sejam suas asas, e elas ainda não haviam saído.

Me espantei ao vê-lo andar. Seus olhos eram de um azul claro, mas não se pareciam com o céu e nem com o mar, mas com o raio do sol ao nascer de manhã. Seu cabelo louro e cacheado parecia mais fios de ouro enrolados. Sem explicação o anjo crescia como a emoção em meu coração.

Aos poucos as asas foram saindo e de seus olhos caíram algumas lágrimas que desciam livremente por seu belo rosto. Quando as asas saíram por inteiro ele voou.

A mim, que o vi nascer, crescer só restou a dor de não saber sequer seu nome. A emoção de ter visto um anjo nascer foi grande, mas de vê-lo voar foi a coisa mais magnífica da minha vida. Seu corpo tornou-se uma pintura aos meus olhos enquanto me recordava dele junto ao céu.

Dei um adeus silencioso e fui embora. Não conseguia esquecer nada do que havia visto ou sentido. Me senti terrivelmente só, mas a solidão se acabou quando uma lufada de vento abraçou meu corpo.

Ele voltou, me disse seu nome e seu significado mágico. Contou-me porque havia voltado e o motivo para o qual presenciei seu nascimento.

O laço entre nós havia existido e terminado ali. Mas tenho certeza que nunca... Que nunca na minha vida esqueceria Azrael.