De Clarice Para Neto 03/05/1998
Brasília, 03 de Maio de 1998.
Para Neto,
Como vai, meu amor? Há quanto tempo não lhe escrevo, não é mesmo? Você deve estar ansioso para saber das boas novas, mas só agora Júlia me concedeu um minuto para que eu pudesse me comunicar com você.
Bom, não quero ser piegas, mas Julinha é a neném mais amável que já vi em toda minha vida. Ela é branquinha, olhinhos bem puxadinhos, bochechas rosadinhas e tem uma risada que dá gosto. Não pára de rir um só minuto! Não tenho dúvida alguma que ela veio para abrandar todo e qualquer sofrimento que há na minha vida. Você precisa vê-la. É um verdadeiro anjinho!
Minha filha agora está com três meses e, portanto, precisa de cuidados meus vinte e quatro horas por dia. É uma felicidade inexplicável estar com ela todo esse tempo, mesmo que eu precise abdicar de uma das coisas mais importantes da minha vida, que é você. Não é uma renúncia definitiva, é claro. Durante algum tempo vai ser bem difícil me corresponder com você, quase impossível, mas assim que for viável eu retomarei às nossas correspondências. Peço também que você não me envie nenhuma carta por enquanto, haja vista que estou de licença e não posso ir ao trabalho buscá-la. Fique tranqüilo que eu tomarei a iniciativa.
Espero tanto que você esteja bem. Tenha certeza que tudo que mais quero é continuar de onde paramos. Agora seria ainda melhor: Eu, você e Júlia.
A vitória não é improvável. Por favor, jamais pense assim!
Com muito amor,
Clarice.