Dia comum

Cláudia,

Podia ser mais um dia comum, ordinário, mas mesmo sem eu saber minha vida mudaria a partir do toque do despertador. Revendo os fatos com mais calma hoje, eu percebo que já deveria saber desde quando estava dormindo. Os sonhos já foram premonitórios, muito felizes para a normalidade a qual estou acostumado.

A manhã foi sem surpresas, a mesma rotina diária, o escritório como sempre com mais serviço para fazer do que eu consigo e menos prazo do que eu preciso, as mesmas fofoqueiras querendo saber da sua vida, e óbvio, sabendo todas as soluções dos seus problemas, mesmo que na casa dela nenhum seja resolvido. Mas mesmo nessa rotina já havia alguns sinais de que algo iria acontecer, alguns clientes que sempre estão de péssimo humor me tratando bem, até o chefe tava bonzinho e me chamou para almoçar com ele:

“...e hoje é por minha conta!”

Realmente pensando com tempo e refletindo sobre o que aconteceu, eu vejo que foi um dia atípico.

No restaurante tudo normal, comida ótima por sinal, até o momento de sair. Foi nessa hora que vi que tudo o que eu vivi foi em vão. Foi só de te ver, que eu percebi isso. Eu, que até então nunca tinha acreditado nisso e ainda chamava de besteira, entendi o que era amor a primeira vista. Foi forte, intenso mas você entrou no carro e se foi. Muito provavelmente nem me viu, ou se viu nem me notou. Anotei a placa do carro já fazendo planos, como faria para te achar?

De volta ao escritório, mas não de volta à rotina. O trabalho que se atrase, ou se faça por si só, só tinha um plano, uma meta, te achar. Como realmente achei, mesmo que custando uma hora de sermão do chefe por deixar meus projetos de lado, uma caixinha para um amigo despachante, uma noite em frente a sua casa para te ver chegar e saber se era você mesma a dona do carro e o “mico” de te mandar uma carta sem te conhecer...

Essa carta de hoje é para comemorar um ano que estamos juntos, felizes. E pensar que até de doente mental você já me chamou. Só espero que esse seja o primeiro de muitos anos juntos.

Do sempre seu,

José

Campinas, 15/12/1995