De Clarice Para Neto 20/11/1997
Brasília, 20 de Novembro de 1997.
Para Neto,
Confesso que fiquei um tanto quanto chateada ao ler que você ficou aliviado por eu “ainda” não ter te esquecido, eu esperava que você tivesse mais confiança no nosso amor. Não deve ser nada fácil ficar enclausurado, sem contato com o mundo, porém você não pode deixar os seus pensamentos te traírem dessa maneira.
As coisas não são exatamente como deveriam ser. Eu sei que te dói saber que estou com outra pessoa, mas, por favor, entenda que essa não foi uma escolha minha. Tudo que eu fiz foi pensando em você, acredite que a sua situação poderia estar pior. Não me faça perguntas, só confie em mim.
Quanto à Júlia, hoje ela mexeu pela primeira vez. Eu já estava ficando preocupada, pois estou indo para o sexto mês e ela ainda não tinha se manifestado. Temia que fosse culpa minha, achava que não estava passando amor suficiente para minha filha, até porque tenho tido muita depressão. O médico disse que ela sente tudo que eu sinto, que eu preciso me esforçar para ficar bem e, assim, ela será um bebê saudável. E é o que eu tenho tentando fazer. Não tenho dúvidas que eu estaria mais tranqüila se tivesse você ao meu lado nessa fase tão especial da minha vida, só com você me sinto protegida e amada de verdade.
A saudade é algo que eu não consigo explicar, é surreal. Às vezes acho que não tenho mais vida, tudo que eu faço é ficar sonhando acordada 24 horas por dia. Meus pensamentos são apenas lembranças. Eu vivo em estado de transe absoluto. E me sinto uma covarde por não enfrentar tudo e ir te ver, te abraçar, te beijar, te sentir e ficar te olhando sem dizer uma palavra. Mas eu tenho fé que esse dia vai chegar.
Por hora, tudo que te peço é paciência. Eu imploro para que você mantenha a cabeça no lugar e seja forte. Vou procurar seu advogado e tomar ciência de como anda a sua situação, mas não comente isso com ninguém. Saiba que eu jamais deixaria você esquecido aí.
Lembre-se, por favor, que eu te amo muito. Cada minuto mais!
Com todo amor que há em mim,
Clarice.
P.S.: Diga à Edson que, mesmo sem conhecê-lo, eu já o admiro bastante!