De Clarice Para Neto 03/10/1997

Brasília, 3 de Outubro de 1997.

Para Neto,

Eu tentei, de verdade, tentei ignorar a sua carta. Só Deus sabe como eu resisti até, enfim, te responder. Não é certo o que eu estou fazendo. Nem comigo e nem com você. Você demorou muito para me dar notícias, eu precisava dar um rumo na minha vida.

Eu estive com seus pais na semana passada e combinei que voltaria lá para levar a carta. Acho melhor eles te entregarem, eu preciso evitar certas coisas. Você já deve estar sabendo que não estou mais sozinha, o que você não sabe é que estou esperando um neném. Descobri o sexo no dia em que recebi sua carta e, talvez por isso, decidi que o nome dela vai ser Júlia. Lembra? Era o nome que daríamos à nossa filha. Como eu gostaria que as coisas tivessem sido diferentes. Eu estava tão feliz! Nunca mais voltei a sorrir como naquele tempo.

Quero que você saiba que acredito em você, acredito na sua inocência. Eu te conheço mais do que a mim mesma, sei do que você é ou não capaz de fazer. Não tente entender o porquê das minhas decisões. Nada do que eu sinto mudou, eu fiz o que devia ser feito. Pensei muito em você, aliás, pensar em você é uma das poucas coisas que ainda sei fazer. O anel está em um lugar mais seguro que meu dedo. Rezo todos os dias pra você sair desse lugar horrível, mas acho que Deus está me pregando uma peça. A vida não é nada justa. Logo nós dois, que tínhamos feito tantos planos.

Quando você me vir vai tomar um grande susto, estou muito diferente. Eu nunca mais fui a mesma depois daquele dia.

Sei que vou te ver ainda, mesmo que não da maneira como gostaria. Por enquanto, fique bem. “O importante é manter-se vivo!”.

Com todo amor que há em mim,

Clarice.

Louise Mendonça
Enviado por Louise Mendonça em 30/07/2008
Reeditado em 30/07/2008
Código do texto: T1104558