Assim Me Ditas
Ditam-me os teus olhos que a bela paisagem não pode ser contida pelos teus braços, nem tampouco, ser afagada em teu colo que solitariamente murmura a falta do bem amado.
Dita-me tua boca que o beijo é desejado, assim como o último fôlego de um ser mortal que luta contra a divina vontade, mas que se esbarra na fragilidade que impossibilita o próprio ser.
Dita-me a tua aflição, ao me ver, que eu sou o teu querer, que as noites estão sendo longas e que a paixão está para demolir a razão que ainda comprimida em teu peito busca por uma pedra firme de cais para se atracar e não ser engolida pelas ondas do mar do amor.
Ditam-me tuas mãos trêmulas e suadas que o tato ainda grita sob a pena de uma longa espera, que um dia há de se encerrar confundindo-se com as minhas que, livres, percorrerão o universo perfeito dos sentidos.
Diz-me o teu silêncio, quando foges de mim, que o calar é o pior dos martírios, porque a voz da paixão é como fogo vivo em chamas que vagueia no íntimo da alma, louca para se libertar e queimar, e queimar, e queimar.
Assim me ditas o que eu mais quero escutar, o que mais quero sentir, porém o que eu não posso almejar. Pois sou como o vento aprisionado, incapaz de soprar as velas dessa desejada caravela que se chama paixão, que se lança ao mar bravio, riscando o oceano entre tempestades tenebrosas para depois, e somente depois, flutuar sobre o mar de silêncio do que me ditas.