Uma Carta, um Adeus

Quando decidi escrever essa carta me lembrei de todas as flores, os presentes e os passeios que fizemos somente nos meus sonhos... Das vezes em que nos beijamos na chuva, ficamos na praia até mais tarde para esperar o sol se pôr ou chegamos mais cedo para vê-lo nascer, mas somente mais um pensamento, não mais que isso... Das juras de amor que deveria ter feito e não fiz, das vezes em que te consolei e te disse: 'perdoa ele, é só uma fase'... Mas na verdade querendo dizer: 'ele não te merece! Larga ele e fica comigo! Ele não te ama mais do que eu'... Mas eu nunca disse, e nunca deixei que você soubesse que o que eu realmente sentia por você não era amizade. Era um sentimento mais profundo. Não era paixão pois eu a sentia perto quando estava longe e quando estava perto, sentia que éramos um... Eu te amava... Ou melhor, eu te amo! Talvez eu nunca tenha dito nada com medo da amizade acabar ou por covardia... Não sei, talvez seja isso... Só sei que eu criei dentro de mim um mundo onde somente nós dois tínhamos a chave e a permissão para entrar... Um lugar onde nos afastávamos dos nossos problemas, dos outros, e ficávamos sozinhos... Mas era só um sonho. Ficar num outro mundo era loucura! E você me amar... Impossível. Foram várias às vezes que eu numa despedida te beijei no rosto como um amigo, mas na verdade queria te dar um beijo como o seu namorado te dava. Mas nunca o fiz, nunca criei uma oportunidade ou percebi que você a tivesse criado... Quando ouvia a sua voz no telefone, imagina que todas as suas palavras me eram um sussurro, aqueles sussurros que você nunca fez, ou os que eu fazia dizendo que te amava. Depois que você desligava o telefone. Talvez o grande problema tenha sido o fato de termos nos aproximado de mais na nossa amizade, daí amizade se tornou superior a tudo que existia entre nós dois, e simplesmente esmagou qualquer outra oportunidade de sentimento que pudesse aparecer mais tarde... Ou então o maior problema foi descartarmos a ideia de sentirmos algo além de amizade um pelo outro. Descartarmos a ideia de nos amarmos... Descartarmos a ideia de que um dia o amor poderia vir e mudar toda a nossa relação... Não sei, talvez você já não me veja mais como um homem e sim, só como um amigo... Simplesmente um amigo... Uma coisa parecida com irmão... Às vezes me pergunto se preferia ter a sua amizade ou o seu amor... E daí eu fico sem respostas. Se me aproximei de você foi pela nossa amizade, mas é justamente ela que nos impede de ser o que realmente quero que sejamos... Uma outra dúvida que tenho é se sente por mim o que sinto por você mas assim como eu, você esconde os seus sentimentos num abismo tão profundo que nem mesmo os sonhos podem alcançá-lo... Eu te amo! É tudo o que penso em dizer quando você está chegando... Eu te amo! É tudo o que penso em dizer quando você está do meu lado... Eu te amo! É tudo o que penso em dizer quando você está indo... E quando você está indo, só consigo pensar na sua volta, penso na sua volta vindo direto para os meus braços, me chamando de amor, me dando o beijo que sempre sonhei, sim, outro sonho e nunca mais que isso... Muitas vezes saber que você está bem me conforta, saber que está bem me faz ficar bem... Mas logo fico triste quando ouço você dizer que a sua felicidade é por causa do seu namorado ou por causa do 'carinha' que você está gostando... Ah... Como eu queria que você olhasse todos os dias pela sua janela e ao ver o sol se lembrasse do amor que brilha dentro de mim. Mas era impossível. Eu escondia o que sentia, então mesmo que você olhasse todo dia para o sol e sentisse um forte amor vindo dele, um amor que queimasse mais que os seus raios, um amor que iluminasse uma vida centenas de vezes mais que o sol ilumina a terra, você não poderia saber ou sentir que esse amor vinha de dentro de mim... Poderia ser de qualquer outro... Mas era meu! Mas eu não falava, eu não... Eu não... Demonstrava. Fica comigo! Era o que sempre pensei em dizer quando estávamos sozinhos, no silêncio de palavras e no silencioso barulho ensurdecedor que saía de dentro do meu coração... Idiota... É, idiota... Simplesmente, idiota! É isso que eu sou por amar a você, por amar a uma amiga, por amar a pessoa que... Só por te amar, isso basta. O meu amor por você chegou num ponto em que nunca mais será apagado. Chegou ao ponto em que... Nem a morte irá fazer com que ele se apague, nem o tempo, nem os outros, nem Deus nem o Diabo! Ele se imortalizou dentro de mim... Tornou-se... Indestrutível... Talvez esteja se perguntando como fiz para esconder durante tanto tempo todo esse sentimento, e a resposta é simples... Não sei... Não sei. Via filmes de romance e ficava me perguntando por que não podia ser assim conosco, ficava me perguntando por quê amor é igual à desgraça que só aparece na casa do vizinho... Mas depois eu fui vendo, e analisando, e revendo, e analisando novamente, e me veio na cabeça à possibilidade do nosso amor ser proibido ou ser contra a vontade de Deus ou tivesse algum outro motivo muito forte e que eu conhecesse, mas não desse muita importância para ele, então não conseguia senti-lo. Mas preferi mudar os pensamentos... Estava ouvindo uma música, e quando percebi que me fazia lembrar você em todas as estrofes e fiquei com vontade de chorar parei de ouvir. Será que você também tem uma música que faz com que se lembre de mim? Acho que nunca vou saber... É estranho ou sei lá, engraçado! Quando se está amando parece que todas as músicas são feitas para a pessoa que a gente ama... Consumindo... O meu amor por você está simplesmente me consumindo. Se paro para pensar em alguma coisa, vejo você em todas elas... Se estou no ônibus e olho pela janela eu imagino você do lado de fora, parada, me olhando... E olhando... E quando começa a se mover para subir o ônibus parte. E quando eu te procuro do lado de fora você não está mais, desapareceu bem diante dos meus olhos, como se fosse mágica, como se fosse sonho... Um sonho... Um sonho...

Um sonho. Acho que o esse amor me consumiu tanto que não consigo pensar em outra pessoa se não você. Se quero estar com alguém, esse alguém é você... Não sei mas às vezes acho que estou morrendo... Morrendo de amor... Morrendo por não querer nada além dele, por só pensar nele... Vivo agora em função dele. E por isso deixei de viver o resto, deixei de viver os outros, deixei de viver a minha vida para viver um amor que nunca existiu, um amor que nunca passará de um sonho... Tenho vontade de dizer adeus mas não consigo, tenho vontade de matar esse amor mas me lembro que ele e eu já nos tornamos um... Queria te pedir para que você lesse essa carta perto de mim, que não a mostrasse para ninguém, que a guardasse da mesma forma como guarda a sua vida, que a guardasse da mesma forma como guardou as lembranças da nossa amizade, que a guardasse do mesmo jeito que guardou o amor que tinha, ou tem, pelo seu namorado... Para mim não da mais... Acabou... Não o amor! Ele é imortal... Mas as minhas forças para continuar lutando contra todo o resto do mundo, contra tudo e todos... Decidi matar esse amor, decidi desistir de mais esse sonho, decidi desistir de nós, aliás esse nós nunca existiu... Mas de qualquer forma “desistir de nós”... Já que eu não consigo mais viver sem você e sem esse amor, estou deixando tudo para trás... Estou indo embora junto com ele... Eu te amo! Adeus...

****** ******* Esta carta eu escrevi em 01/2007, para uma amiga que eu gostava muito. Hoje não somos nada além de amigos... Aliás, nunca fomos mais que amigos...