AS CONCHAS DA NOSSA PRAIA

Querido Stanley:

Hoje, quando as horas lentamente caíam no horizonte, eu me apressei para dispor dos derradeiros raios de sol desprendidos do paraíso e que mergulhavam naquele mar verde esmeralda... da nossa infância.

Eu não sabia que um dia escreveria sobre nós.

Mas assim que toquei a água tépida de marolas tão meigas, eu divaguei o pensamento e me lembrei das nossas tardes na praia que aconteciam nas férias de verão.

As nossas tardes eram atemporais.

Lembrei-me de todos os nossos castelos, da fortaleza que construíamos ao seu derredor, e das piscinas naturais que preparávamos para capturar os peixinhos coloridos que nelas chegavam a noite, trazidos pelas marés descuidadas.

Não sei se o mar é o mesmo dos nossos tempos!

Se ainda canta as mesmas melodias dentro das conchas enormes esquecidas pelas ondas da praia, e que você mas trazia de presente, amparadas pelos nossos olhos de brilho inesquecível.

Lembro-me duma noite em que dormi com uma delas grudada aos meus ouvidos só para ouvir o eco do mar que nos banhara naquele final de tarde a se mesclar com a tua voz que neles me sussurava confissões que eu nunca entendia.

Era cedo Stanley, muito cedo, e eu...não entendia...

-Ouça, Mariah, ouça o eco das conchas! O nosso mar está aqui dentro, Mariah!

E eu acreditava, Stanley, acreditava que o mar estava lá dentro de verdade.

Acreditava porque você me dizia.

Ainda a pouco, naquela mesma praia, tropeçei numa conchinha, e fui buscar o nosso mar dentro dela..

Saiba, eu sempre busco o nosso mar.

Mas Stanley,...nossas conchinhas se esvaziaram...ou sou eu que já não as escuto muito bem? Stanley, aonde foi parar o nosso mar?

Era tão imenso, tão enorme...tão turbulento e tão calmo...

E os castelos, por que não estão mais lá aonde nós os deixamos, naquela praia verde esmeralda, repleta de peixinhos?

Só hoje entendi, Stanley, que todos os mares têm validade.

São como os castelos de areia...

Agora já são mais dezoito horas...tantas dezoito horas já cairam naquele nosso horizonte infinito...desde que crescemos...

E eu apenas lhe escrevo a lembrar da nossa infância que permaneceu intacta nos meandros do meu tempo.

Me perdoe pela lembrança e pela pressa.

Alguém também me espera, e eu tenho que ir.

Sempre que deixo esta praia, ouço um eco de chuva a ressoar... Deve ser aquela concha Stanley, que vez ou outra ainda chora dentro de mim...

Com o carinho de sempre,

Mariah.

Texto inspirado em fatos reias das praias da minha infância.

A "concha presente" que ecoava o mar realmente existiu.