Declaração de amor à minha máquina de escrever
Não é porque o avanço tecnológico tenha trazido os últimos
modelos de modernos computadores, que vou deixar você de lado minha querida e fiel máquina de escrever.
Afinal, nós duas já nos conhecemos bastante. Fazemos companhia uma à outra em que juntas eu e você, dias e noites, prin-
cipalmente noites em que me sento à tua frente sinto que já notas
meu estado d'alma, e pacientemente deixas que meus dedos aper-
tem tuas teclinhas já tão habituadas aos meus toques implorando /
que passem para o papel minhas angustias (muitas) ou minhas alegrias (poucas).
Ficamos horas intermináveis juntas nós duas. Eu aflita batucando no teclado, como se vc fosse fiel escudeira da minha dor.
Mas paciência é que não te falta.
As vezes sinto que tens vida. Sei que és só uma máquina de escrever, mas percebo que existe entre nós uma cumplicidade grande
e por isso não me separo de ti.
Então hoje sentada no moderno computador último tipo,
te escrevo essa carta, para que saibas que não vou te trocar sob
hipótese nenhuma por essa modernidade que não tem para mim a-
pesar da beleza ostensiva e emperequetada do modelo, a tua
sensibilidade, doçura e carinho.
Hoje estou feliz. Então logo mais, vamos juntas comemorar.
Vou teclar somente letrinhas delicadas. E te sentirás tão feliz quanto
eu. Hoje juntas, faremos a mais bela poesia de amor.
Até mais minha Olivetti querida.
Ysabella