Nosso Amor... I * Elton das Neves//Edna Lopes

Nosso Amor...*

Parte I- O Inventário de Tristezas.

Minha querida, ontem, ao saíres para o trabalho, ao falar contigo, ao tocar na tua mão, nem imaginavas ( como poderias?) que horas atrás, solitário em nossa sala de estar, eu olhava pra um retrato teu. Lá, tu me sorrias da moldura, fazendo-me lembrar como era o nosso amor. Também não pudeste notar na minha face às sombras das lágrimas que derramei por ti e de saudades daquela nossa paixão, que parecia não ter tamanho possível para ser contido por nada abaixo do céu.

A muito que também não te ouço dizer que me amas, que sem mim não podes viver, tudo entre nós se tornou frio, como um intenso inverno, os nossos sentimentos parecem que ficaram congelados em algum lugar dos nossos corações!Até teu olhar mudou, ele não tem mais aquela beleza de outrora! Quando dirigias teus olhos em minha direção, tu me iluminavas com a força de uma aurora boreal, expulsando de mim e do meu caminho, as trevas da desesperança, de um mundo sem amor.

Teu olhar era o meu espelho e eu me via refletido como um homem completo, totalmente realizado, saciado com o alimento delicioso do teu amor, que por mim e para mim era único e absoluto. Até o modo como hoje me tratas na cama não é igual ao de tempos atrás. Não fazemos mais amor, só sexo, por pura necessidade fisiológica, para matar o tesão latente em nossos corpos. Não há mais carinho em tuas caricias, na há mais alegria no teu toque, percebo o quanto mudou teu sentimento por mim.

Nos tocamos e parece não existir mais emoção, só desejo, somente a necessidade de aplacar o fogo impiedoso que se acende nos corpos exigentes de sexo. Acontece o mesmo quando se tem sede, quando se tem fome e, somente por necessidade física única e absoluta, o satisfazemos.

Hoje em dia quando ouves uma canção de amor, fico perguntando-me se é em mim que pensas, se é para os meus braços que a letra e/ou a melodia da música te transporta. Questiono-me se quando estás vendo um filme romântico, no lugar do casal protagonista, tu nos vê em seu lugar.

Percebi também, que nunca mais ligaste para o meu escritório em hora de expediente, dizendo que é rapidinho, que só fizeste aquela ligação para poder ouvir um pouquinho minha voz, para poder passar o resto do dia bem, em teu trabalho. Na minha caixa de correio eletrônico nunca mais encontrei um cartão romântico virtual, ou mesmo um recadinho, com singelas palavras apaixonadas provindas do fundo do teu coração.

Me dou conta que essas pequenas demonstrações de carinho, que também eram minhas, não acontecem mais. Me pergunto porquê, fico á pensar onde erramos, em que ponto do caminho de nossas vidas nos perdemos um do outro. Relembro algumas canções que se referem ao amor como um grão, uma planta que precisa todos os dias ser regada. Como pudemos esquecer esta verdade tão antiga e, ao mesmo tempo, tão atual?

Para nossa infelicidade, devemos ter esquecido o “ regador”dos sentimentos, que trazia dentro de si tudo que era necessário para podermos cuidar do nosso amor, que como viçosa plantinha, iria á cada dia, crescendo um pouquinho e um pouquinho mais...

CONTINUA...

*Texto adaptado por mim a partir da prosa poética “O Regador do Amor”, da autoria de Elton das Neves, o Anjo das Letras (http://eltondasneves.blogspot.com), um amigo recantista. A seu pedido, reescrevi o texto preservando a idéia, o enredo, os personagens e todo o “clima” intimista que havia no texto, mas agregando ao mesmo, meu estilo de escrita, um refletir e um olhar feminino. Elton me deu “carta branca”e fiz bom uso dela! Enfim, uma produção a quatro mãos. Gostei do resultado. Torço para que gostem também.

Elton, obrigada por sua confiança!