Trecho I
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Pensei mil coisas; em mim, no que sou, no que estava tentando me transformar, nas minhas incapacidades, no medo, no desespero, na covardia, na amplidão do meu sentimento já exposto de diversas formas, ainda que perante os outros possa parecer insignificante. Na verdade daquilo que exponho, nos meses anteriores, em situações, palavras e gestos de anos atrás, e quero dizer que eu não me importo mais comigo, com o que as pessoas ou você irá sentir quando provam um pouco de mim, um pouco do azedo, do escuro e até mesmo do grande vazio. Porque ninguém prova nada daquilo que não queira, ninguém escolhe olhar para o cinza por uma obrigação, ou por pena. Escolhe porque também precisa disso, porque também pode ser assim às vezes. Porque ninguém se contenta só com luz, todo mundo precisa da escuridão, do silêncio, do sentimento que se mostra de forma discreta, que por se saber tão intenso, desaparece diante das grandiosas demonstrações públicas e sem pudor daqueles que tem o dom de se fazer notar. Eu não sei me fazer notar.
Não consigo encher os pulmões daqueles a quem amo com esse ar colorido, quem quiser vai ter de aceitar essa porção de densas trevas, de amargo...Mas que também pode significar coisas lindas para aqueles que se permitem enxergar, para aqueles que não se importam em viajar um pouco para dentro, para quem não acha pequena uma janela que se abre para a noite. Porque eu sou noite. E a minha ‘luz’ só pode ser vista assim, quando se mergulha no que sou.
Não me sentirei tão minúscula diante daquilo que não posso ser, eu não quero mais sentir a necessidade de mudar aquilo que sou...
Eu sou, e pronto.
E ponto.
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