MEU ANTIGO AMOR




            Quanto tenho escrito e pensado sobre as cartas que trocamos quando éramos adolescentes. Começamos com uma correspondência corriqueira, um hábito naquela época, tanto com outros jovens daqui, como do exterior, talvez algo similar ao que hoje chamamos de intercâmbio. Sem saber como, nossos laços foram se estreitando, trocamos fotografias, sentimentos e juras de amor. Nos prometemos uma espera, acreditamos num futuro... Trocávamos frases, poemas,
visões de mundo, sonhos, questões da alma (e com que profundidade!). Chegamos a nos falar por telefone. Eu, morando em SP e você em BH... Naquela época, que distância! Mas nos mantivemos unidos por vários anos, fiéis ao nosso sentimento.
Sentimento de outros tempos; forte, mas quimérico. Nenhum dos dois podia viajar,
travar um conhecimento mais real, confirmar o que existia. E fui eu quem impôs a condição: ou você viria me conhecer, conhecer minha família, ou romperíamos. E você nunca mais me escreveu...

            Soube depois que sua mãe não queria aquele rompimento. Fomos amigas enquanto ela viveu e quando a conheci, ela fez questão de que eu também te conhecesse ...
Aquele almoço ao redor de uma mesa mineira, o pão de queijo, a vaca atolada, a polenta (sem sal, que é assim a verdadeira, disse-me ela), a mandioca frita, e a conversa, as brincadeiras, a alegria, de certa forma o resgate da ruptura passada.
Falamos sobre a lembrança do Pequeno Príncipe e sobre nossa preferência sobre o trecho do pôr-do-sol, quando estávamos tristes; sobre o pôr-do-sol no belo horizonte de BH que sempre evocou recordações, por anos e anos. Fiquei sabendo dos poemas: os primeiros que escrevi foram para ti e os guardaste, sempre.

            Mas a vida é a vida e cada um tinha a sua... O que havia naquelas cartas ficou no coração, na alma; o que há nesta é a simples constatação de que todas as cartas de amor são ridículas... As criaturas, não sei.