CARTA AO PAPAI NOEL

Saúde, meu velho elitizado e estilizado.

Veja que já comecei com ofensas. É que já passei fome e não tenho papas na língua.

Queria desafiá-lo a vestir roupas pobres em 2008 e ao invés de descer pela chaminé (coisa rara por aqui), esborrachar-se sobre um telhado de amianto ou de lona preta (isso temos muito). Caia num canto onde não haja crianças dormindo. Elas vão se assustar no início, mas depois vão sorrir. Estão acostumadas com sustos.

Traga botas - mas, as de borracha - pois vai pisar em muitas coisas líquidas e fedorentas. Deixe por aí os sininhos, a coisa aqui se resolve aos berros, é mais emocionante. Ao invés de gorro, use capacete. Quando chegar saberá porquê.

As nossas crianças sofrem muito no natal quando ouvem a sua promessa de passar por aqui, pela televisão, sabendo que você é um mentiroso e nunca vem.

Se não não puderes vir, também não faça promessas. É muito feio prometer coisas para as crianças e não cumprir e dói muito e traumatiza também.

Depois eu lhe envio outra carta mais amarga do que esta.