CARTA PARA NINGUÉM

CARTA PARA NINGUÉM

Quisera ter alguém para escrever e a quem expressar o que me vai na alma. A quem eu tenho, não posso dizer o que sinto, porque é surdo. Lanço as palavras ao vento e o eco retorna mudo. Esforço-me com a mímica, mas, infelizmente, ele é cego. Toco-lhe a pele fria e minha mão fica arrepiada; retiro-a rápido. Quisera ter a coragem de tentar novamente, mas o tempo passou e não o fiz. Agora, que mudei de idéia, não posso mais, porque se foi.

Se eu pudesse, diria:

"Amor, és a perfeição em forma de gente. Teu físico de Adonis encanta-me a vista e me alegra o coração. Teu intelecto dialoga com Einstein e deixa-o confuso e sem pistas. Orgulho-me do teu argumento. Tua moral reta e a ética perfeita fazem de ti um paradigma a ser seguido. Teu sorriso luminoso faz a noite virar dia, ao contrário do eclipse. Teus olhos claros são duas pedras preciosas, que eu ambicionaria possuir no meu baú de jóias. Gostaria de ter tuas mãos, de dedos finos e longos, entre as minhas. Teu nariz grego, me faz ter vontade de ir conhecer o Parthenon. Teu coração amoroso, eu adoraria que confinasse o meu, no seu interior. Mas, és um pássaro em voo solo e logo decolas do lugar onde estou. Vais para algures, bem longe de mim. Com que altivez abres estas asas e te elevas do chão. És um rei, um soberano, um ditador, que meu coração anseia e minha alma aspira possuir. Mas, além de todos esses títulos, és uma quimera, um sonho, uma ilusão."

Gilda Porto
Enviado por Gilda Porto em 19/06/2008
Código do texto: T1041669
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