Lembrei-me de Camões

BsB, 18 junho de 2008.

Caro amigo, como vai você? Tenho recebido suas cartas, estou feliz por saber de suas andanças pelo mundo da fantasia. Eu vou bem, cada dia mais bonito e rico... Rindo. O problema é a grana que o governo me toma todos os meses. Virou sócio majoritário de minhas finanças e o pior é que não vejo saída a curto prazo. Meu consolo está no dito popular: “cada povo tem o governo que merece”.

Prefiro acreditar que cada um de nós tem a namorada que merece. A minha por exemplo, é um primor de pessoa: lava minhas roupas, esfrega minhas costas, compra frutas frescas e ainda me chama de Amor. Isto hoje em dia é uma raridade, algo quase impossível de se ouvir. Quando penso que posso perdê-la sinto um frio gritante na barriga. É como se ela fosse o meu alimento, as minhas vestes, os meus sapatos, a minha camisa de seda e o ar rarefeito que respiro.

É triste pensar que os “novos” amantes passam a vida inteira construindo castelos, enchendo os bolsos de ouro, aprendendo outras línguas, tomando vinho importado, desejando uma velhice sossegada. Por outro lado esquecem das coisas simples, do coloquial, como: “eu te amo”, “como vai você?”, “bom dia!”. Deixam de lado o velho café com leite. Esquecem de dar a eles mesmos os presentes que a vida a dois oferece aos que se dispõem a buscar a felicidade.

O amor é um conceito muito doido. Camões indagou: “tão contrário a si é o Amor?”. Realmente é cruel, o que vemos por aí é um troca-troca sem fim, homem/mulher, mulher/homem. As pessoas ainda não descobriram que o Amor pressupõe a arte de ser amante, é o desejo de fazer com que o outro se sinta completo, feliz, inteiro. Ser amante é dar ao outro a certeza de que você também é feliz.

Meu amigo, “talvez você diga que eu sou um sonhador/mas não sou o único”, minha amada é assim como eu, cada um tem a Flor ou o Fruto que merece.

Um grande abraço.

Pedro Cardoso DF
Enviado por Pedro Cardoso DF em 18/06/2008
Reeditado em 04/12/2022
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