Carta à Fernando Pessoa
Fernando Pessoa,
Escrevo-te esta carta para pedir que perdoe minha infidelidade, por ter-me entregue com veemência a Carlos Drummond e ter-me deixado invadir pela insinuante e delicada conquista de Olavo Bilac! Fui imprudente ao ler confissões de Vinicius, Camões a tantas mulheres, a tantos perfumes... Estava à tua procura nos versos alheios (não deveria e deveria, um fato)... Queria encontrar-te onde quer que fosse, mas só encontrava a saudade dos teus devaneios, a loucura de Álvaro de Campos quem sabe Caeiro... E, no entanto rompia-me com afirmações ínfimas e precisas de Lorca e Neruda...
Deve estar doendo, eu sei, assim como me corta o peito escrever-te tais verdades... Que de tão minhas nem as linhas de Quintana sobreviveriam ao tormento de tanto amor que te entrego... Por isso preciso dizer que te amo indiscutivelmente, ainda que tenha deitado ao silêncio de Augusto dos Anjos, sentido Bocage, Florbela Espanca ou Castro Alves, que tenha cedido ao conforto e consolo de Thiago de Melo e Ferreira Gullar... Ou até mesmo aos sonhos de João Guimarães... Pois entre as rosas só restam pessoas dos teus versos que de tão sinceros arrancam minha alma do corpo e me tem num súbito e inconsciente encontro... Perdoe-me tal inconstância... Mas amo-te pela magia da inspiração, pelo que somos e escrevemos.
Da tua fiel e eterna Poeta
Alana Alencar