AGRADECIMENTO: A FLOR DESABROCHADA

(para Aila Pacheco, preciosa amiga, e colegas escritores de Rio Grande, a Noiva do Mar)

Hoje é domingo, dia de muita Paz nesta minha Pelotas, a santa terrinha, onde estou hospedado na casa de Humberto Luiz e Suzana, amigos de sempre.

Ainda rumino a alegria do dia de ontem: a presença, as amabilidades de nosso pessoal da Casa do Poeta do Cassino, a amada POEBRAS – Cassino, excursionada à beleza de São Lourenço do Sul, cujo bordado à beira da Lagoa dos Patos, floreia uma das mais belas praias da Costa Doce.

Agradeço as atenções desde a chegada da comitiva à Feira do Livro, os gestos, a plenitude de amor em cada rosto, o carinho percebido a cada sorriso. Enfim, estas demonstrações fraternas cativam. Ainda mais que eu – emocionado – fruía a premiação, primeiro lugar em Poesia, no Concurso do Centro Literário Lourenciano - 2002.

Sou um homem muito rico. Tenho os amigos que desejei para a maturidade. Tenho a voz deles nos livros, que são arquivos da Palavra, cuja fragilíssima chave é a mão que folheia a página, com os seus humores.

Obrigado pelo vaso de flores vermelhas, elas traduzem a paixão, a profundidade de entrega ao coletivo. Não são, apenas, flores para o corpo, como aquelas dos ganhos de juventude – bonitas – mas que se esvaem após o cerrar da porta da alcova.

As rosas de hoje representam e coreografam o cortejo para a dimensão do espírito. A maturidade plena tem destas coisas: a gente acaba fruindo aquilo de que não nos apropriamos nem esbulhamos.

É o natural escoar do viver: o Bem vem como doação unilateral. Impõe-se usufruir destas lindas doações, sem que venhamos a quebrar o tenro ramo da planta. Aliás, a bem da verdade, a criatura é plantinha capaz de produzir muito amor.

O interessante é que para o jardim humano não há época definida para o plantio nem estação para o surgimento da flor. O mais curioso é que as flores são de tipos e cores muito diferenciados. Os matizes, perfis e tons dependem do Bem e do Mal hauridos do húmus que produziu a germinação e a vida. Afinal, tudo o que fazemos são frutificações desta seiva do Amar.

Este verbo é uma palavra mágica, e a mim parece que os poetas sabem ornar-lhe da cor preciosa e precisa. Quando alguém ama o coletivo, produz frondosa figueira de Confraternidade. E o mundo se faz mais formoso.

Aila, amiga! Li e anotei o teu poema sobre a Primavera, a estação das cores. É bonito e tem a tua plantinha dentro dele. Transparece a tua alegria, quando saúdas os teus manos de equipe e a mim. Tem a tua cara, o teu rosto, a crística alegria – a do Senhor – em quem, por crença, agradeces a vida.

E é em nome Dele que desabrocha nesta página a minha flor, regada por vocês.

Ela é tímida e chorosa e tem por nome AGRADECIMENTO. Não é tão volátil quanto a flor Paixão, e nos faz mais densos, mais humanos, seiva nobre para produzir novas flores.

– Do livro CONFESSIONÁRIO – Diálogos entre a Prosa e a Poesia, 2006.

http://www.recantodasletras.com.br/cartas/1032543