PARA UM ADORÁVEL LOUCO

Meu louco adorável,

Tenho recebido seus convites para espetáculos e eventos que divulgo. Pena que a minha agenda está sempre congestionada e não posso atender seus desejos. Você demonstra uma “quedinha” por mim e isso é uma massagem no meu ego: tenho ainda o meu sex appeal! Não vá, com isso, criando idéias de que eu tenho a intenção de lhe tirar do hospício, onde você diz estar. Não e não, meu prezado. Você acha que vou lhe negar a boa vida, onde deve ter de tudo do bom e do melhor, inclusive um micro on line, além de tempo suficiente para papear com deus e o mundo? Não vou impedir um bem-estar desse para uma pessoa amiga que me quer tanto bem. Ainda mais, fico a pensar, considero os ótimos bocados que você passa com o seu negão que, como você mesmo afirma, sempre lhe pega de jeito e o deixa todo quebrado no dia seguinte. Vejo-o feliz da vida como uma leve borboleta a saracotear em flores coloridas e perfumadas sem se preocupar com o amanhã. Não, amigo. Do hospício não lhe tiro nunca! Talvez uma visitinha de vez em quando, quando o tempo me permitir. Mas hoje tive uma idéia e lhe pergunto: você gostaria da companhia da minha ex-mulher? Ela é muito legal: alta, forte, decidida, boa de papo e outras coisas, dedicada, boa companhia e muito compreensiva — uma pessoa adorável! Tenho ainda verdadeira loucura por ela. Sei que ela não tem muito tempo também, porque se vira em três empregos para poder me sustentar, mas ela é danada: sempre arruma tempo para fazer as coisas. Imagine que ela dirige um caminhão de entregas ainda de madrugada, depois se veste com o mais fino tailler para tocar o seu escritório internacional, onde faz rios de dinheiro nas moedas mais fortes do mundo, mais tarde se entrega às obras de caridade e assistência social, onde também consegue levantar muita grana e regalias. Ela é fiel devota de São Francisco de Assis. Parece até que traz escrito na testa a sentença básica: é dando que se recebe. Quanto mais ela dá, ela recebe e divide com os outros. Para citar um exemplo, ela veio me visitar no Natal. Trouxe-me uma geladeira nova, um sofá de couro cru lindíssimo, cuecas de seda pura, colônias francesas, castanhas do Oriente Médio, livros de poesias dos meus autores preferidos e uma compoteira de cristal para eu colocar as minhas frutas secas dos trópicos. Nesse vai-e-vem em torno de mim, não é que ela ainda teve tempo de me entregar um envelope contendo dez mil dólares! Cédulas novinhas, estalando, mostrando a cara do careca Franklin, com um olhar debochado de como quem diz: eu ainda tenho valor. Mal tive tempo de agradecer-lhe os presentes natalinos, vi adentrar pela minha varanda um belo jovem loiro trajando somente botas, cuecas e chapéu de texano, apesar do frio intenso que ronda essas paragens. Desta vez fiquei confuso e não pude conter a curiosidade. Ela, como sempre direta e sem rodeios, foi logo me explicando que achou tudo isso na esquina, inclusive o jovem louro. Não é tentadora a minha oferta? Mande-me o endereço do hospício onde você se encontra que eu vou pedir para minha ex-mulher lhe visitar.

Tenha um maravilhoso 2006 com muito humor.

Abraços cordiais

F.