Carta De Reflexão
Conservo na boca o doce sabor de aconchego, proteção e carinho do seio materno e relembro o seu olhar de ansiedade nas longas noites de vigília, durante minhas enfermidades infantis.
Ah! Que saudade do teco-teco na bolinha de gude, do papagaio a bailar no ar, do pião a girar, dos jogos de botão e futebol com amigos e irmãos. O vento ainda traz o som de meus primeiros acordes musicais, enquanto visualizo em meu corpo as marcas de minhas travessuras de moleque.
Tenho na memória o sorriso, atenção e determinação da minha primeira professora, que como uma fada transformava minha vida e em casa perpetuava na imagem de minha mãe que, com amor e cumplicidade, reforçava os ensinamentos enquanto preparava o meu almoço.
Da adolescência - em particular do difícil ano de cursinho, marcado por dúvidas, medos e inseguranças - mantenho viva a figura séria, contida e formal do meu pai, que sob forma de aula de O.S.P.B (Organização Social e Política do Brasil) transmitia seu imenso amor.
Bem, sou um homem de meia-idade, e como dizem alguns, na idade do lobo, e trago dentro de mim um pouco desses momentos. Aproveito a oportunidade para agradecer aos meus filhos pela possibilidade de através deles, poder reviver a criança adormecida no meu inconsciente, e a minha companheira pela coragem de crescer junto comigo na difícil, porém gratificante, caminhada da vida a dois.
Sinto-me feliz pela oportunidade do amanhã. De poder rever meu beija-flor amigo que, mesmo nesse caos urbano, sempre visita a minha janela, de admirar o sorriso de esperança das crianças nos parques e de ver nos olhos os pensamentos mágicos de cada adolescente que caminha em direção à escola, e o semblante de sabedoria de cada idoso, feito de dores e alegrias que são evidenciadas em cada ruga.
Hoje, tenho a certeza de que possuo a consciência e a maturidade necessária para pintar o quadro da vida com cores do afeto e da emoção e, assim, viver as sutilezas do cotidiano como um verdadeiro aprendiz do amor.
Agradeço a todos os amigos e também a meus inimigos, se é que os tenho, companheiros dessa longa viagem.
*Texto feito ao completar 40 anos.