Na ponta da língua
Sim! Sou mesmo a pequena dos cabelos desalinhados que toma leite com cerol no café da manhã. Preciso manter a língua afiada como rabiola de pipa, assim eu ganho o céu sem perigo de ser tosada. Eu não vou sentir vergonha do meu jeito aquariano de perceber a vida. Pode achar que somos grandes comparsas para todas as causas perdidas, mas não vou sentir vergonha dos meus vexames, das minhas expressões de medo, raiva ou felicidade.
Como vou te explicar que eu me encontro nas falhas, nas dúvidas, nos berros, nos momentos de solidão, nas altas doses de álcool ou beijando uma boca desconhecida? Não preciso mentir, serei transparente, de fato! Eu sou terrível, mas sou real. E toda a leveza dos meus toques, o sorriso persistente, os bilhetinhos deixados, os selinhos molhados, os olhares de desejo, as mordidinhas no canto da boca, as gargalhas inusitadas, a inexplicável química feita da união das nossas peles, as frases que digo dormindo, as viagens que faço em cada detalhe do seu corpo, fazem parte do pacote. Não vivo de mentiras, sou o mistério. Não preciso, contudo, de redenção. Sou tudo isso e muito mais com e por prazer.
Vai encarar?