SEXTA-FEIRA SANTA
– A Cruz que Ainda Sangra
A Sexta-feira Santa deveria ser um dia de silêncio, de reverência, de memória viva do amor que se entregou até o fim. Mas, olhando ao redor, parece que o Calvário se repete todos os dias, não como símbolo de redenção, mas como reflexo de uma sociedade que esqueceu o que significa sacrifício, justiça e verdade.
Jesus foi crucificado por denunciar a hipocrisia dos líderes religiosos, por confrontar a corrupção dos poderosos e por se colocar ao lado dos marginalizados.
Hoje, muitos que se dizem seus seguidores erguem templos luxuosos, vendem bênçãos como mercadoria e transformam a fé em espetáculo. A cruz virou logotipo; o Altar, vitrine.
Os políticos, que deveriam servir ao povo, usam o nome de Deus para justificar suas ambições. Prometem libertação, mas entregam opressão.
Enquanto isso, a juventude cresce sem referências, buscando sentido em um mundo que valoriza mais o ter do que o ser. A violência, as drogas e a desesperança se tornam companhias constantes.
A sociedade, perdida em seus próprios interesses, ignora os crucificados de hoje:
• Os pobres que morrem sem assistência médica.
• As crianças que crescem sem amor e educação.
• Os indígenas que veem suas terras serem tomadas.
• As vítimas do racismo, da intolerância e da indiferença.
A cruz de Cristo não foi apenas um evento histórico; é um espelho que reflete nossas escolhas diárias. Cada vez que escolhemos o egoísmo, a mentira e a omissão, pregamos novamente o Justo na cruz.
Nesta Sexta-feira Santa, que possamos olhar para o Crucificado e reconhecer que sua dor continua nas dores do mundo. Que seu sangue nos desperte para a compaixão, para a justiça e para o verdadeiro sentido do amor.
Porque a cruz não é o fim, mas o começo de uma nova humanidade.
Manoel Lobo.