Relato de Conversão ao Catolicismo

Introdução

Este é um relato pessoal da minha caminhada de fé. Não escrevo para convencer ou impor nada a ninguém, mas para compartilhar algo que mudou profundamente a minha vida. Seria ingratidão da minha parte guardar tudo isso em silêncio.

Respeito sinceramente quem trilha outros caminhos, quem crê de forma diferente ou até mesmo quem não crê. Não é minha intenção julgar, mas apenas contar o que vivi e no que fui transformado.

Dedico estas palavras aos meus amigos, à minha família, aos irmãos da igreja onde cresci, aos católicos, e também àqueles que, assim como eu um dia estive, vivem em busca de respostas — mesmo sem saber exatamente por onde começar.

Não é um ensinamento, nem uma defesa. É apenas o testemunho de alguém que foi surpreendido pela graça — e sentiu, no mais íntimo, que precisava contar.

Início

Meu nome é Carlos Daniel de Carvalho, nasci em 31 de agosto de 2002, em Cambuquira, uma pequena cidade no sul de Minas Gerais, onde vivi praticamente até os meus 18 anos. Fui batizado ainda criança na Igreja Católica, tradição que sempre esteve presente na minha família, especialmente por parte de pai. Fiz a catequese, recebi a Primeira Comunhão e o Crisma, participei dos encontros e guardo boas lembranças do meu catequista, que nos incentivava a caminhar na fé e a viver os sacramentos com seriedade. Também tive o exemplo discreto, mas firme, do meu pai, e o testemunho constante da minha avó, sempre presente na vida da Igreja. Mas, apesar de tudo isso, nunca fui um frequentador assíduo das missas dominicais, nem me aprofundei de fato nos ensinamentos da fé. Eu carregava uma admiração pelo simbolismo do catolicismo e uma curiosidade sincera pelas coisas sagradas, mas sem compromisso real com a fé que havia recebido.

O tempo da confusão

Durante minha infância, e até por volta dos 15 anos, vivia num estado de sincretismo religioso. Embora formalmente católico, minha espiritualidade se misturava com elementos de outras tradições, ao ponto de eu valorizar essas práticas mais do que a fé na qual fui formado. Em meio a esse amálgama de referências, cheguei a questionar se devia continuar rezando ao Deus da minha infância ou buscar novas formas de oração que conheci nesse período conturbado.

Apesar de ter recebido os sacramentos, minha vida demonstrava uma desordem interior e um compromisso superficial com a fé, sendo marcada por escolhas que me afastavam da verdade revelada. Olhando para trás, me pergunto se realmente cheguei a querer viver a verdadeira fé católica. Talvez eu nunca tivesse, de fato, entrado e participado da vida da Igreja como ela é.

O primeiro desvio de rota

Foi nesse contexto, ainda na adolescência, que tive meu primeiro contato mais direto com o protestantismo. Embora a família do meu pai fosse católica, do lado materno muitos já haviam se convertido há anos à Assembleia de Deus. Um dia, minha avó materna me convidou para acompanhá-la a um culto. Aceitei, sem grandes expectativas — mas, para minha surpresa, fui profundamente tocado. A simplicidade, a seriedade e a vivência da fé que presenciei ali mexeram comigo. Me interessei cada vez mais, e logo depois, um tio meu — percebendo meu entusiasmo — me presenteou com alguns livros que me ajudaram a compreender melhor o universo evangélico. Aquelas leituras me despertaram e me marcaram de forma decisiva. Considero esse o momento da minha primeira conversão: ali, nasceu em mim um desejo sincero de viver a fé e de conhecer a verdade de Deus

Mais tarde, com a abertura da igreja na fazenda e diante da situação delicada que envolvia a depressão do meu avô paterno, minha família também começou a participar dos cultos. Mas, ao contrário do que possa parecer, não fui eu que os acompanhei — foram eles que, aos poucos, passaram a me acompanhar. Eu já estava convencido, já ansiava por viver com mais intensidade aquela fé que me parecia, então, tão verdadeira. Tivemos, inclusive, a sorte de encontrar ali um ambiente de acolhimento e apoio, especialmente num momento tão difícil. E assim, de forma quase natural, sem grandes rupturas ou discussões, fomos todos nos afastando da Igreja Católica. Em pouco tempo, nos tornamos evangélicos.

Uma busca sincera por fundamentos

Desde o início da minha conversão ao protestantismo, havia em mim um desejo intenso de compreender, com profundidade, aquilo que me era ensinado. Eu não queria apenas crer — queria saber no que estava crendo. Desejava conhecer as origens, os fundamentos das doutrinas que me apresentavam. Essa sede por verdade me levou, ainda jovem, a estudar com seriedade: mergulhei na teologia, conheci os principais autores assembleianos e protestantes, estudei as línguas originais da Bíblia, dediquei-me à hermenêutica e à exegese. Ao lado disso, me esforcei por viver intensamente as práticas espirituais de jejum, oração, vigílias e meditação.

Com o tempo, aquela sede de compreender com profundidade o que me era ensinado se transformou numa inquietação constante: eu precisava entender de onde vinham as doutrinas que eu abraçava, como surgiram, em que contexto foram formuladas, como se desenvolveram ao longo da história. Não bastava aceitar uma ideia como verdadeira — eu queria conhecer sua origem, sua coerência com a fé cristã ao longo dos séculos. Foi essa busca intensa e sincera que me levou aos escritos dos primeiros séculos do cristianismo: os Padres da Igreja, a patrística, a história da Igreja — e, inevitavelmente, à doutrina católica. Não se tratava de uma curiosidade acadêmica, mas de uma necessidade interior de ir à fonte, de encontrar as raízes históricas e espirituais da fé que eu já desejava viver com inteireza.

A busca que se tornou serviço — e a virada inesperada

Com o amadurecimento da fé e o aprofundamento no estudo teológico, meu zelo natural pelo conhecimento se desdobrou, quase sem que eu percebesse, em serviço. Tornei-me professor da Escola Dominical para adultos, preguei sermões em diferentes cidades e fui convidado a atuar como monitor em um curso teológico. Cheguei a ingressar em uma faculdade de teologia, onde tive o privilégio de aprender com professores e teólogos pentecostais cuja influência marcou profundamente minha caminhada.

Muitas das aulas que ministrei e sermões que preguei estão até hoje registrados por escrito — páginas preparadas com esmero, repletas de citações, reflexões e aplicações práticas. Ensinava com entusiasmo e dedicação, movido pelo desejo sincero de transmitir a Palavra de Deus com fidelidade e profundidade.

Foi nesse ambiente de intensa vivência ministerial que surgiu um novo desafio: ensinar apologética. A missão era clara — defender a fé protestante frente às doutrinas que considerávamos equivocadas, especialmente as da Igreja Católica. Mas foi justamente aí que algo inesperado começou a acontecer. Para refutar com honestidade, eu precisava conhecer. Não bastava repetir argumentos prontos: era necessário ouvir a Igreja Católica por ela mesma, ler seus documentos, estudar seus santos, compreender sua lógica interna.

E foi nesse esforço de escuta, que não deixava de ser sincera, que pela primeira vez algo em mim se moveu. Ao tentar refutar, comecei a perceber ressonâncias profundas entre aquilo que lia e aquilo que, de alguma forma, já intuía. Não foi um convencimento súbito, mas uma semente plantada — uma verdade que, sem alarde, começava a germinar em silêncio.

A descoberta inesperada: um caminho já trilhado

Ao estudar a Igreja Católica com o objetivo de refutá-la, fui surpreendido por algo que não esperava: encontrei ali a profundidade espiritual que eu tanto buscava. Aquilo que, no meu coração, eu desejava alcançar — uma vida de oração mais elevada, um progresso interior real, uma santidade que fosse além do discurso — estava não apenas presente, mas sistematizado e vivido ao longo de séculos na Igreja. Era como se eu tivesse encontrado, finalmente, um caminho já trilhado, com mestres espirituais, práticas, doutrina e uma pedagogia clara para a união com Deus. A ascética e a mística católicas me impressionaram profundamente.

Mas não foi só isso. A teologia católica, longe de ser confusa ou cheia de invenções humanas — como eu costumava acreditar —, se mostrou extraordinariamente coerente, rica, profunda e biblicamente fundamentada. A unidade da doutrina ao longo dos séculos, a harmonia entre fé e razão, entre Escritura e Tradição, entre os Padres da Igreja, os concílios, os santos e os doutores... tudo isso começou a me desmontar por dentro. Eu procurava contradições, mas encontrava consistência. Procurava argumentos para contestar, mas via uma completude que não havia em nenhum outro lugar.

E aqui está algo importante: eu não estudei a fé católica como alguém curioso ou aberto à conversão. Eu era um protestante convencido, me preparando para ensinar contra a Igreja. Queria compreender melhor o que os católicos criam, para poder refutá-los com propriedade, para mostrar o “erro” com mais eficácia. Estudava para fazer apologética, para evangelizar católicos, para provar que estavam enganados.

Mas, à medida que avançava nos estudos — lendo os documentos da Igreja, os escritos dos santos, a história do Cristianismo primitivo — algo desconcertante acontecia: as acusações que me ensinaram, que eu mesmo já havia repetido tantas vezes, iam caindo por terra uma a uma. Não havia erro. Não havia heresia. Havia, sim, uma fé bela, profunda e verdadeira, defendida por homens e mulheres que conheciam a Deus com um amor e uma inteligência que me desarmavam.

O espantalho e a crise da Sola Scriptura

Com o passar dos anos, à medida que eu continuava estudando, aquilo que no início era apenas admiração foi se tornando inquietação. Eu comecei a perceber que boa parte do que me ensinaram sobre a Igreja Católica era simplesmente falso. Era um espantalho — uma caricatura criada para ser facilmente derrubada. A Igreja que eu criticava não era a Igreja real. Não era o que ela ensinava, não era como ela vivia, não era o que os santos experimentavam. E isso me abalou.

Mas o que realmente começou a ruir dentro de mim foi a doutrina da Sola Scriptura. Essa ideia de que a Bíblia, por si só, seria a única fonte de autoridade cristã, sem necessidade de uma Tradição viva ou de um Magistério, começou a mostrar seus limites. No início eu resisti, argumentava, buscava explicações. Mas a cada tentativa de sustentar o Sola Scriptura, mais evidente se tornava a fragilidade do fundamento. Percebi que, sem uma autoridade visível para interpretar as Escrituras, tudo ficava sujeito à opinião pessoal, à fragmentação, à confusãobe ao relativos.

Comecei a perceber que o protestantismo, que nasceu justamente em contestação à autoridade da Igreja, não conseguia oferecer uma autoridade duradoura. Era uma multiplicação constante de interpretações, doutrinas, divisões. E aí voltava à mente o testemunho da Igreja Católica: a mesma fé, professada há séculos, por povos de línguas e culturas tão diferentes, mas em profunda unidade. A doutrina, a moral, a liturgia — tudo fazia parte de um mesmo corpo, sustentado por uma Tradição viva e apostólica.

A oração pela verdade

Apesar de continuar vivendo como protestante por mais algum tempo, as reflexões e os estudos que eu fazia começaram a me gerar uma inquietação profunda. Não era apenas uma dúvida teórica ou uma curiosidade teológica: era uma angústia existencial. Comecei a me perguntar com seriedade: Será que estou mesmo no caminho certo? Quanto mais eu refletia, mais a dúvida me corroía. Sentia-me dividido, quase em desespero. Aquilo me afetava profundamente. Não conseguia pensar em mais nada. Era como se toda a minha vida dependesse dessa resposta.

Ou a Igreja Católica era a maior heresia de todos os tempos — como eu havia aprendido — ou era, de fato, a Igreja que Cristo fundou. Não havia meio-termo. E, diante desse abismo de incerteza, a única coisa que consegui fazer foi me ajoelhar e orar. Na verdade, essa oração já me acompanhava há algum tempo, e eu a repetia com frequência, com todo o coração: “Senhor Jesus, mostra-me a verdade. Vós sois a Verdade. Mostrai-me a verdade, venha de onde vier e independentemente das consequências. Quero conhecer o caminho que quereis para mim. Mostrai-me a verdade e dai-me a graça de segui-la.”

Era uma súplica constante, feita em silêncio ou em lágrimas, sempre com o mesmo desejo sincero: encontrar a verdade — e segui-la, custasse o que custasse.

Um sussurro de paz

Continuei fazendo aquela oração, por muito tempo. Repetia sempre: “Senhor Jesus, mostrai-me a verdade.” Mas foi no fim do ano de 2023 que algo diferente aconteceu. Estava num momento de angústia profunda. A dúvida continuava, a sede pela verdade só aumentava. E foi então que, muito hesitante, com desconfiança, quase sem coragem, ousei fazer uma pequena oração mental:

“Maria... se for verdade que a Senhora intercede por nós no céu, ajuda-me a encontrar o caminho.”

Foi algo tímido, quase silencioso, mas foi real. Ao mesmo tempo, pedi também a intercessão de alguém por quem eu já tinha admiração desde muito tempo: São Josemaría Escrivá. Um santo que eu respeitava, cujos escritos e exemplo já me haviam tocado mesmo quando eu ainda era protestante.

Depois dessa oração, algo inesperado aconteceu: uma paz profunda tomou conta do meu coração. Não era a resposta definitiva, não era a solução de todos os conflitos, mas era uma tranquilidade interior, como se Deus dissesse: “Confia. Estou conduzindo.”

Então tomei uma decisão: ia continuar minha vida. Ia seguir com meus estudos, com minha faculdade, ia continuar servindo na igreja protestante. E, talvez, um dia — depois de ler todos os Pais da Igreja, estudar todas as línguas originais, conhecer os documentos do Magistério e aprofundar os fundamentos do protestantismo — quem sabe, em 10 ou 20 anos, eu me converteria à Igreja Católica.

Eu não sabia, naquele momento, que Deus já tinha outros planos... E foi então que aconteceu algo que mudou tudo.

O sonho que mudou tudo

Do final de 2023 até março de 2024, eu estava em paz. Havia feito minha oração, decidido estudar com profundidade, e deixado para o futuro a possibilidade de, quem sabe um dia, me tornar católico. Já não pensava nisso com tanta intensidade. Estava vivendo, focado em meus compromissos, na faculdade, nas atividades da igreja protestante, na vida cotidiana.

Mas foi então que, na quinta-feira anterior à Semana Santa — a Quinta-feira das Dores — tive um sonho que mudou completamente minha vida.

Naquele sonho, eu estava do lado de fora de uma templo católico. Apenas observava. E, de repente, uma mulher se aproximou de mim. Eu não via nitidamente seu rosto — ela era como uma presença translúcida — mas senti quando ela colocou a mão no meu ombro e me abraçou. Era como se minha própria mãe tivesse me abraçado. Ou melhor: como se minha mãe, minhas avós, toda a ternura materna do mundo estivesse naquele gesto.

Essa mulher me conduziu para dentro da igreja.

Lá dentro, ela me levou até um quadro de Jesus crucificado. Eu não via a cruz por inteiro — estava aos pés da cruz. Diante daquele quadro, havia várias inscrições em latim que eu não conseguia entender, mas aquela mulher me explicava. E enquanto ela explicava, eu sentia. Sentia como nunca antes. Sentia a dor de Jesus. A dor do Filho de Deus. Uma dor que me atravessava de uma forma que nunca tinha experimentado.

Ajoelhado aos pés da cruz, contemplando aquele sofrimento e todo aquele opróbrio virei-me para aquela mulher invisível e disse:

— A senhora também deve ter sofrido muito... por ver o seu Filho assim... crucificado.

E naquele momento, uma dor profunda, cheia de amor e reverência, me invadiu. Era como se eu estivesse realmente ali, com Maria, aos pés da cruz. Como se ela estivesse comigo, me ajudando a compreender não apenas com a mente, mas com o coração, o que significa o sacrifício de Jesus.

Depois disso, recebi de suas mãos um terço colorido, feito de pedras preciosas. E comecei a rezar. Um protestante com um terço nas mãos. Rezando.

Esse sonho foi o ponto de virada. Eu sabia que nada mais seria igual depois disso.

Maria me levou a Jesus

Uma observação importante sobre esse sonho: ele, por si só, já desfaz muitos dos equívocos e acusações que eu mesmo ouvi e repeti como protestante sobre o papel de Maria na fé católica. Ali, naquela experiência, não houve nenhum desvio da centralidade de Cristo. Pelo contrário.

Eu não via claramente o rosto daquela mulher. Ela era translúcida. E o centro do sonho, da experiência, da dor, era Jesus. Foram os pés cravados de Nosso Senhor que eu vi. Foi o sofrimento d'Ele que me tocou. E foi ali, aos pés da cruz, com aquela mulher — Maria — ao meu lado, que eu vivi a experiência mais profunda de amor por Jesus e de dor pelos meus pecados.

Maria me levou a Jesus. De forma direta, sem se colocar no caminho, sem chamar atenção para si, mas me guiando até o centro da fé: a cruz do Senhor.

Essa experiência já refutava, no mais íntimo do meu ser, muitos dos espantalhos que eu havia construído sobre a fé católica.

Mas ainda havia mais por vir.

Domínios marianos no sonho

Outra parte que me comove profundamente ao recordar aquele sonho e tudo que vivi depois, é perceber o amor de Maria por mim — mesmo depois de eu tê-la ignorado por tantos anos, de tê-la rejeitado, de ter repetido palavras duras contra ela, aprendidas no zelo sincero, mas mal direcionado. Ainda assim, ela me acolheu como mãe. Não me cobrou nada. Não me acusou. Apenas me envolveu com aquele amor silencioso, cheio de ternura, como quem cuida de um filho ferido que finalmente voltou para casa.

E é aqui que compreendo algo ainda mais profundo: Maria é mãe de todos os cristãos, mesmo daqueles que não a reconhecem. Seu amor não é exclusivo nem condicionado. Ela ama porque é mãe. E como toda verdadeira mãe, não deixa de amar nem mesmo aquele filho que a ofendeu. Ao contrário, espera, intercede, conduz — até que ele esteja aos pés de Jesus, onde ela mesma está.

Essa experiência me abriu os olhos para aquilo que a Igreja ensina com tanta sabedoria sobre a Virgem Maria. Aos poucos, fui compreendendo com mais clareza os dogmas marianos: sua Imaculada Conceição, sua Virgindade Perpétua, sua Maternidade Divina e sua Assunção aos céus. Mas não apenas os dogmas em si — comecei a entender o papel de Maria na vida da Igreja e sua missão como medianeira de todas as graças, como aquela que, sem ocupar o lugar de Cristo, participa de modo íntimo e singular da obra da salvação.

Foi como se, olhando para trás, eu percebesse que tudo isso já estava presente naquele sonho: o domínio da maternidade, da mediação, da presença junto à cruz. Naquele dia, compreendi também que Maria me foi dada como mãe — assim como está na Palavra de Deus: “Eis aí tua mãe” (João 19,27). Era a confirmação interior de que, agora, eu não caminhava mais sozinho. A Mãe de Jesus era também minha mãe.

E o mais belo é que tudo isso só reforçou, em mim, a centralidade de Jesus. Maria nunca é obstáculo, mas sempre ponte. Ela me levou até Ele. E é com Ele que permaneço, agora também com o auxílio e a ternura daquela que, no silêncio da cruz, foi-me confiada como mãe.

A Graça da Fé Diante da Eucaristia

No dia seguinte ao sonho, compartilhei tudo com um amigo muito católico. E foi ele quem me falou algo que me abalou ainda mais profundamente: “Você sabia que esta semana é dedicada à meditação das Sete Dores de Maria?” E, com espanto, ele completou: “Ontem, justamente ontem, foi a Quinta-feira das Dores. É o dia em que a Igreja contempla Maria aos pés da cruz.”

Eu não sabia. Nada. Não fazia ideia que aquele sonho coincidia com a Quinta-feira das Dores, e muito menos que o foco era exatamente Maria aos pés da cruz. Fiquei sem palavras. Aquilo tudo me atravessou com força. Então decidi ir sozinho até a igreja. Fui. Entrei. Me ajoelhei diante do Santíssimo Sacramento.

Foi diante do Santíssimo Sacramento que tudo dentro de mim se transformou. Eu, que carregava tantas dúvidas, tantas objeções, tantas feridas e resistências — ali, diante de Nosso Senhor Jesus Cristo, presente na Eucaristia, todas essas barreiras caíram por terra. Mas não por raciocínio ou esforço próprio. Foi um dom. Um dom da graça de Deus.

Ajoelhado ali, diante do altar, eu vi Jesus. E eu cri. Criei estar ali Jesus Cristo, verdadeiramente presente: corpo, sangue, alma e divindade. Aquilo que antes me parecia impossível de aceitar, agora era evidente como a luz do dia. Aquilo que minha razão argumentava contra, meu coração agora abraçava com uma certeza profunda, serena, que só pode vir do alto.

Eu recebi a graça para crer. Eu reconheço: não foi mérito meu. Foi presente. E esse presente me reconduziu à Igreja, me devolveu à fé da minha infância, agora com maturidade, com profundidade, com entrega. A fé católica que antes me parecia distante, agora se tornou lar

O retorno à casa do Pai

Depois de todas essas experiências interiores e resistências externas, comecei a participar das Santas Missas. Foi então que tudo começou a fazer ainda mais sentido. Na Liturgia, percebia com clareza a centralidade de Cristo, a profundidade do Mistério e a beleza da adoração silenciosa. Cada gesto, cada palavra, cada silêncio falava à minha alma.

Mas foi sobretudo diante da Eucaristia que a certeza invadiu meu coração: Jesus está realmente presente. Vivo. Concreto. Amoroso. Não era mais questão de ideias ou argumentos: era uma presença real que me olhava e atraía.

Depois da Semana Santa, vivendo ainda o eco do Tríduo Pascal, entendi que era hora de dar esse passo de entrega. Procurei um sacerdote e fiz uma confissão longa e verdadeira. No mesmo dia, em uma pequena e singela Capela da Imaculada Conceição, fui finalmente acolhido na Igreja Católica, participamdo do Banquete do Cordeiro.

Foi uma emoção silenciosa, como o abraço de um Pai que esperou por anos a volta do filho. E, como um gesto que parecia selar essa experiência de reencontro, ao final da Missa, uma senhora se aproximou de mim e, com simplicidade, me entregou um terço de presente.

Naquele instante, lembrei-me do sonho que tive tempos antes — alguém me entregava um terço nas mãos, e eu sabia que era o momento certo. Tudo se encaixava. Deus me preparou, me esperou, e agora me acolhia.

Uma Palavra Final de Gratidão e Busca pela Verdade

Ao concluir este testemunho, não posso deixar de expressar minha gratidão. A minha primeira conversão, no contexto em que eu vivia, foi ao protestantismo. Foi através dele que muitos princípios cristãos foram plantados em mim: o amor pelas Escrituras, a busca sincera por Deus, a oração pessoal, o estudo. Sou profundamente grato. Meus pais são protestantes, minha família materna também. E reconheço com respeito e carinho a importância dessa vivência na minha formação espiritual.

Mas hoje compreendo que a busca pela verdade deve estar acima de qualquer rótulo, tradição ou convicção. Jesus é a Verdade. E amar a verdade é amar Jesus. Amar a verdade é estar disposto a segui-la, mesmo que isso nos desinstale, mesmo que nos leve por caminhos que antes julgávamos impensáveis.

Não é preciso que você acredite no que eu creio. Eu sei que, ao ler isso, muitos poderão pensar — especialmente alguns irmãos protestantes — que se tratou de uma ilusão, ou até de uma ação do maligno. Mas pergunto: o mal trabalharia contra si mesmo? Um sonho que me levou a dobrar os joelhos, a me arrepender dos meus pecados, a me aproximar mais de Deus, a buscar oração diária, a amar Jesus e contemplar seu sofrimento na cruz... isso viria do mal? Um processo de conversão que me elevou espiritualmente, que me fez viver um relacionamento com Deus mais profundo e mais sincero do que jamais vivi... seria isso engano?

Não falo aqui de teorias ou argumentos. Falo de uma experiência real que me conduziu a um encontro vivo com Cristo. E a esse Cristo, eu vi e adorei na Eucaristia. A Ele, hoje, eu digo: eu creio.

Por isso, deixo aqui um apelo sincero: que sejamos buscadores da verdade. Que não temamos o que Deus possa nos mostrar. Que tenhamos a humildade de reconhecer que Ele age como quer, quando quer, e por quem quer. E que, antes de julgarmos uma fé, uma igreja, ou uma doutrina, possamos ao menos conhecê-la com sinceridade. Porque a verdade liberta. E quando a verdade nos encontra, ela nos reconduz ao amor. Um amor que vi, senti e vivi, aos pés da cruz, junto da Mãe. Um amor que me fez crer.

Ad maiorem Dei gloriam.

Totus tuus, Mariae.

Daniel Carvallho
Enviado por Daniel Carvallho em 09/04/2025
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