ANAÏS NIN (1903-1977)
ANAÏS NIN (1903-1977)
Profa. Dra. Cristiane Lima da Silva (Cristiane Grandinot)
Anaïs Nin afirmava que “L’érotisme est l’une des bases de la connaissance de soi, aussi indispensable que la poésie”. Esse foi o pensamento que norteou todo o percurso pessoal e criativo dessa que foi uma das primeiras escritoras de histórias eróticas da Era Moderna: a franco-americana Angela Anaïs Juana Antolina Rosa Edelmira Nin y Culmell, mais conhecida no meio literário como Anaïs Nin.
Ela nasce em 1903, na França. Seu pai, Joaquin Nin, decepcionado por ter tido uma menina, escolhe esse prenome com sonoridades tão ambíguas. Abandonada por ele e crescendo em culturas de línguas diferentes, isto é, o francês, o inglês e o espanhol, Anaïs torna-se uma adolescente deslumbrada pela Literatura e pela escrita de seus Diários íntimos, que no início eram apenas cartas endereçadas ao pai ausente.
Vivendo nos Estados Unidos, casada com um banqueiro anglo-saxônico, Anaïs experimenta o ócio e a frustração sexual. Em 1929, morando em Paris, lê o livro Women in Love, de D. H. Lawrence, e decide escrever um artigo crítico, publicado em 1930. Ainda nos anos 1930, Nin conhece o escritor norte-americano e boêmio Henry Miller, com quem mantém um relacionamento amoroso fusionante e cheio de mentiras. Segundo Anaïs, é com Henry Miller que ela descobre os prazeres oferecidos pelo sexo e pela sedução. É, pois, nesse contexto que as palavras “traição e mentira” se tornam moedas correntes na vida da escritora assim como em seus escritos.
Mulher-amante-escritora ardilosa, asceta, extravagante, inteligente e com um quê de magia, Nin atrai numerosas personalidades de sua época, tais como Antonin Artaud, Breton, Durrell, Rank e Brassaï. Com tantos amantes e obras de cunho erótico-pornográfico já publicadas, ela foi mais ousada em sua vida pessoal do que suas contemporâneas (Simone de Beauvoir, Doris Lessing e Virgínia Woolf, entre outras). Foi uma mulher símbolo dos arquétipos tradicionais de esposa, dona de casa e amiga fiel, mas também da guerreira amazona autônoma que não se dobra à vontade masculina e, ao contrário, joga com os homens com grande habilidade.
Em obras como Diários, que registam mais de cinquenta anos de sua vida, temos confissões extraordinárias que compreendem desde experiências sexuais a encontros e desencontros vividos pela autora. Outras retratam igualmente sua realidade mesclada com um toque de fantasia, mas que nos impressionam pela ousadia e criatividade de uma mulher-escritora hors norme e corajosa, que derrubou, inexoravelmente, vários cânones sagrados.