O LIVRO

 

Longe dos livros, mas muito presente com as revistas e jornais, sonhava pegar um exemplar, manusear, guardar sobre a mesa da nossa casa, mostrar para os amigos e parentes...

Sonho impossível.... assim pensava!

 

Restava a mim e às minhas primas, todas com idades entre seis e oito anos, brincadeiras com as bonecas recebidas no Natal.

 

Nossos pais eram funcionários da ferrovia. No final do ano as bonecas chegavam para as meninas, carrinhos e bolas para os meninos. As más línguas diziam que ferroviários formavam grandes famílias para serem contemplados com o salário família e os presentes natalinos.

 

Além das brincadeiras com os mimos do patrão, as crianças cheias de criatividade, brincavam nos barrancos, nas árvores, nas canoas. Desde a mais tenra idade a subida nas árvores era o desafio diário. Escorregar nos barrancos... outro grande desafio. Na casa das minhas primas existia balanço nas árvores. Nunca vimos um parquinho de perto. Da cidade pouco sabíamos, mas o imaginário  reinava contente.

 

Os acenos do trem, durante o dia, eram os mensageiros  dos nossos sonhos. Apitos e sons dos sinos encantavam  a nossa doce infância. 

 

O chefe da estação do trem, trabalhava vestido com terno e gravata,  morava na confortável casa da ferrovia. O casal ...exemplo de leitura, assinava revistas e jornais. Liam e repassavam para as crianças... Manchete, O Cruzeiro...

Histórias em quadrinho eram as minhas preferidas. 

 

O sonho de alcançar um livro continuava. Quando a professora da Escola rural multisseriada apresentava aos alunos o objeto cobiçado, alunos sorriam com a esperança de algum dia possuir aquela lindeza, que parecia pertencer somente às pessoas ricas e inteligentes. 

 

No final daquele ano, a terceira série, a professora resolveu presentear seus sonhadores alunos... sorteio de um livro!

 

Não é que fui a escolhida pela sorte! O livro... ah! o livro... "Ali Babá e os Quarenta Ladrões"!

 

 

 

Arte Guto 

Foto by  Zaciss