BIOGRAFIA NENECO

Biografia do desembargador Manoel de Araújo Silva

Nasceu no dia nove (9) de julho de mil novecentos e vinte e nove (1929) no sítio Barros Brancos município de Jardim do Seridó RN, filho de Antônio Alves da Silva e Almira Dias da Silva, ele agricultor, ela de prendas domésticas, sendo o primeiro filho do casal. Foi registrado no dia 10 do mesmo mês e ano, acima aludidos, pelo então Oficial do Registro de nascimento, Antônio Antídio de Azevedo, do primeiro Cartório Judiciário da comarca de Jardim do Seridó, conforme certidão expedida e assinada de próprio punho pelo citado Escrivão, tendo sido declarante do termo de nascimento o próprio genitor do registrado

A distância existente entre o local em que nasceu e a cidade de Jardim do Seridó é de aproximadamente nove (9) quilômetros, légua e meia, mas, mesmo assim, foi levado a registro público, no prazo de quarenta e oito (48) horas, como comprova a primeira certidão passada pelo titular do Cartório acima mencionado.

Seus pais eram pessoas pobres e trabalhadoras, não tinham sequer o curso primário, mas, na infância frequentaram aulas em escolas particulares por alguns meses, onde foram alfabetizados, aprenderam a ler e a escrever. Sua mãe Almira, era mais instruída do que o seu pai; tinha uma caligrafia bonita e be6m legível para o pouco estudo que teve. Certa vez afirmou-lhe que, na Juventude, teve a oportunidade de ler os livros ¨Carlos Magno e os Dose Pares da França” e as ¨Mil e Uma Noites” isto quando passou algum tempo na casa de sua tia Chiquinha, residente que era em um sítio no município de Parelhas RN.

Muitas vezes, à noite, seus pais ficavam a conversar sobre as lutas e combates dos valorosos cavaleiros e guerreiros franceses - ¨Os Dose Pares de França”, citavam nomes de alguns deles como ¨Roldão” “Oliveira”, falavam sobre uma árdua batalha que teria acontecido na ponte de Manilhe, na França, mencionavam o nome do “Almirante Balão”, referindo-se às trincheiras dos combates, fatos aqueles que deixavam o menino, Manuel Araújo, então com nove (9) anos, possuído de admiração e curiosidade. Sabiam e declinavam os nossos nomes de alguns dos cachorros dos “guerreiros”, como “Rompe Ferro” e “Ventania” falavam sobre as trincheiras de Roldão, relatos aqueles que faziam filho ávido por conhecimentos, pensar, adormecer e sonhar, algumas vezes, com aquelas personagens e paragens deslumbrantes, bem diferentes daquelas existentes no humilde ambiente em que vivia.

Sua mãe foi sua primeira professora, fazia as letras do alfabeto e mandava que as cobrisse com lápis grafite. Seu pai comprou-lhe uma carta de ABC, a qual tinha uma capa com três listas no sentido vertical, sendo duas na cor azul e uma vermelha. Posteriormente, sua mãe pediu-lhe para deixar de cobrir as letras do alfabeto que ela grafava com paciência e cuidado, pois já estava em condições de escrevê-las em linhas retas, logo abaixo como pacientemente lhe explicava. Aquilo não parecia ser fácil para o pequeno aprendiz. Fazia o dever ordenado, contudo, algumas vezes, tinha vergonha de mostrá-lo a mãe.

Certa vez, indo com sua genitora à casa de um casal amigo, de Antônio Marçal e Teresa, teve a oportunidade de ver os deveres escolares feitos pelo filho dos visitados, de nome Manoel Egídio de Araújo, vulgo “Blé” que residia na cidade de Campina Grande-PB, aluno que era da então professora Celsa Dantas, já falecida.

No ano de 1938, foi à escola pela primeira vez – “Escola Isolada da Viração” cuja professora chamava-se Altiva Fernandes de Araújo. Esta, dias antes, tinha ido a casa dos pais de Manuel Araújo, onde colheu os dados necessários à sua matrícula e a de suas irmãs. A distância existente entre os sítios em que moravam e aquele que estava situada a casa da escola já mencionada, era de aproximadamente três quilômetros. O percurso até o local da “Escola Viração” era feito a pé. As aulas eram ministradas no primeiro expediente do dia e terminava às onze (11) horas, horário em que o sol abrasador tornava árduo e cansativo o regresso dos alunos para seus lares.

Por volta de 1939, um tio de Antônio Alves, de nome Raimundo Cirne, que residia em São Paulo, veio a Jardim do Seridó visitar as irmãs e parentes que ali residiam.

Nesta época, o pai de Manuel Araújo, resolveu ir para São Paulo com a família, já constituída de sete filhas menores, endo também viajado com ele uma irmã chamada Josefa da Conceição e uma sobrinha de nome Isaura Costa.

Com a finalidade de conduzir todo este pessoal até Recife, local em cujo porto deviam embarcar, foi fretado um caminhão da cidade de Caicó, cujo proprietário era um senhor chamado Alípio.

Durante o percurso, ou seja, de Jardim do Seridó até Recife, a tia Conceição passou a cantar uma música chamada “Casinha Pequenina” cujo início é assim: “Tu não te lembras da casinha pequenina, onde o nosso amor nasceu ...” Tinha um Coqueiro de lado, que coitado de saudade já morreu...” Esta música, ainda hoje, como afirma o próprio Manoel Araújo, lhe traz muitas recordações.

Embora ainda criança, com apenas dez anos de idade, ele relembra de todos os fatos que vivenciou nesta viagem. Ao chegar em Recife foram para um hotel e tomaram um bonde, transporte este que nunca havia visto e imaginado. Ao ultrapassar uma grande ponte, vendo muita água por todos os lados pensou consigo mesmo, isto será o navio? Foi então que lhe alertaram de que aquilo era um bonde.

Somente no dia seguinte, à tarde, foi que embarcaram no navio Itanagé, da Companhia Ita, na terceira classe, cujos camarotes e beliches deixavam muito a desejar. Seu aposento era um beliche na parte superior da cama, próximo a uma escotilha do navio que se encontrava aberta. Mesmo estranhando aquele cheiro de maresia, de tinta e o balanço do navio, o pequeno passageiro conseguiu adormecer. Pela madrugada, veio uma onda tão forte que parte da água do mar entrou pela escotilha e molhou o corpo daquele navegante calouro, que pela primeira vez sentiu o sabor da água salgada do oceano.

Na manhã seguinte, ao levantar-se e sair do camarote, foi sabedor de que o navio, ao passar pelas imediações do local onde fica o Arquipélago dos Abrolhos, na costa do litoral do estado da Bahia, havia enfrentado algumas ondas altas do mar, o que era considerado normal.

Realizando o desembarque dos passageiros com sentido a Santos e encaminhados a um Posto de Serviço de Imigração, surgiu o primeiro impasse daquela sofrida aventura. A filha menor do casal Antônio Alves de nome Tereza, apresentava um furúnculo no couro cabeludo e o serviço médico entendeu que ela não poderia seguir viagem sem antes ser medicada. Embora demonstrado o constrangimento de todos, não houve jeito de ser mudado a decisão final de saúde e a menina Teresa foi encaminhada para ser internada na pediatria de um Hospital, cujo nome foi fornecido aos seus pais. Sua mãe Almira, após o indesejável as incidente ocorrido com a Infante, disse na presença de Antônio Alves - que se ela adivinhasse de que existia uma fiscalização tão rigorosa pela Saúde Pública, teria colocado uma touca na cabeça da menina Teresa e aquele constrangedor e desagradável episódio teria sido evitado.

Acomoda em transporte terrestre, dirigiram-se todos para a cidade de Araraquara, local em que residia uma irmã de sua mãe, também chamada Almira, apelidada de Dondon, casada que era com o tio Nezinho.

De lá, seguiram para a fazenda denominada ” Fazenda Itaqueri” e, ali chegados, conheceu os seus avós maternos, tios, primos e outros parentes. Justino Dias, seu avô, na hora da chegada do pessoal, vinha do trabalho da roça, calçava umas botas tipo cano alto, enlameadas, abraçou a todos e parecia estar feliz, pois, a dez anos, não via a filha e estava mantendo o primeiro contato com os netos potiguares. A sua madrinha e avó, conhecida por Santa, encontrava-se na casa, cuidando dos afazeres domésticos e dos netos que ali moravam.

Seu pai tinha um irmão de nome Francisco Januário da Silva, apelidado de Titio, que residia numa pequena e atrasada cidade, sem estrutura e meio de vida, cujo nome era Gavião Peixoto. Mesmo assim, seu genitor, ansiava visitar o mais breve possível, o dito Francisco. Entretanto, teve que antes voltar a São Paulo para receber a filha Teresa que havia ficado internada, encontrando-a saudável, e assim sendo reconduzida para o convívio da família.

Foi nesta pequena cidade que fixou residência em uma casa humilde e alugada.

O referido irmão Francisco trabalhava na Prefeitura da aludida cidade e conseguiu ocupação para seu pai, em um serviço de reconstrução da estrada da cidade. Era um trabalho árduo e penoso, tinha que sair de casa cedo, levar comida, além de suportar o sofrimento causado pela chuva e pelo frio. Neste trabalho, foi vítima de “Berne”, doença provocada pela picada de uma mosca que inocula uma lêndea no corpo das pessoas e dos animais. Sem a devida assistência médica, curou o mal com emplastro de fumo de corda, por indicação dos companheiros do trabalho.

Os filhos do casal não conseguiram escola, viviam em casa com a mãe amargando as intempéries de um clima frio e hostil à saúde.

Diante das dificuldades que se apresentavam, seu pai resolveu retornar com toda a família para o Rio Grande do Norte.

Por ironia do destino, 0 vapor que os conduziu de volta foi o mesmo navio “Itanagé” sendo que o desembarque dos passageiros se verificou, desta vez, no Porto de Natal.

Chegados ao cais, tomaram dois táxis com destino ao bairro do Alecrim, Hotel de João Caiana, onde ficaram por alguns dias, até ser conseguido um transporte para levá-los ao Seridó. Em Jardim do Seridó, seu pai tentou ficar morando na cidade, pretendia montar uma padaria, fez serviços numa casa deteriorada, situada próximo ao Quartel da Polícia, mas, posteriormente resolveu ir morar no Sítio Pedra Grande, bem próximo do local em que morava antes.

Conseguiu com a irmã Ana, viúva, uma pequena residência que ela possuía no Rio da Cauã, comprou uma vaca a Gumercindo Pereira para ter leite para as crianças. Ali nasceu o segundo filho do casal, do sexo masculino, Geraldo Alves da Silva, no dia vinte e nove de abril de mil novecentos e quarenta (29/04/1940)

O ano acima citado foi muito bom de inverno na região do Seridó, mas, o de 1941 foi uma seca. Para manter a família, seu pai Antônio Alves foi trabalhar na emergência do Governo, serviço da construção da estrada Jardim/Caicó. Na condição de filho mais velho, Manuel Araújo, foi trabalhar com o pai, tendo por ocupação o controle das ferramentas e a cubagem dos “barreiros” e das terras em que eram cavadas e depositadas nos lugares baixos da estrada.

Vale salientar que os trabalhos eram pagos mediante vales, emitidos de cores diferentes, contendo os algarismos de seus valores bem visíveis. O operário recebia os vales e trocava-os no “barracão” por dinheiro em espécie, mediante certo desconto. Era também de sua responsabilidade deixar o dinheiro recebido para a sua mãe comprar o necessário à manutenção da família.

Concluído o penoso serviço da estrada Jardim / Caicó, surgiu a descoberta da Mina da Chelita – “Malhada do Angico” próximo à cidade de Santana, na propriedade do Senhor José Ginane.

Mais uma vez Antônio Alves foi tentar a sorte “cavando banquetas” naquele sítio, a procura de minério. Da mesma forma, como o filho mais velho, acompanhou o pai, tendo a seu encargo a vigilância do material com que trabalhavam os operários. Pouco tempo passou nessa atividade pois o trabalho era muito perigoso, e o seu maior desejo era ir para a escola.

Foi então que a sua tia Tereza Silva de Medeiros e seu esposo Pedro Izidro de Medeiros, pessoas de corações magnânimos, o convidaram para residir em sua casa, em Jardim do Seridó, a fim de estudar no grupo escolar Antônio de Azevedo

Matriculou-se na quinta (5) série sendo sua professora - Marcelina Sampaio Santos e na sexta (6) série, que ainda existia àquela época. Calpúrnia Caldas de Amorim, ambas competentes e excelentes educadoras, a quem sempre tem demonstrado especial carinho e merecido reconhecimento.

Concluído o primário, sua tia Teresa conseguiu com o então bispo de Caicó, D José de Medeiros Delgado, uma vaga, sem pagar mensalidade, no internato do Colégio Diocesano Seridoense, onde concluiu o Curso Ginasial com mérito de primeiro lugar de sua turma.

Como estudante gratuito, prestava alguns serviços no Colégio, sendo responsável por parte da disciplina durante a gestão do diretor Pe. Manoel da Costa

Após a conclusão do Curso Ginasial, mais uma vez, sua tia Tereza o acolheu em sua residência, em Natal, Avenida Deodoro, 585 para fazer o curso científico no Atheneu Norte-rio-grandense. A razão que o levou a escolher tal curso foi porque pensava em um dia estudar a medicina.

Como em Natal, àquela época, existia apenas as faculdades de Farmácia e de Odontologia, optou em fazer o curso de direito na Faculdade de Direito de Maceió, Alagoas.

Sendo estudante carente de recursos financeiros e considerando que naquela época a Faculdade de Direito acima mencionada não existia frequência diária, trabalhou no terceiro (3º) cartório da comarca de Natal, servindo nas audiências judiciais como escrivão, lidando constantemente com os variados tipos de processos, sempre em contato com juízes, advogados e promotores.

Foi compromissado como escrevente juramentado em doze de maio de mil novecentos e cinquenta e um (12/05/1951) e permaneceu trabalhando no (3º) terceiro Cartório de Natal até o dia nove de agosto de mil novecentos e quarenta e seis (09/08/1956) quando foi nomeado Adjunto de Promotor da comarca de Jardim do Seridó.

Em várias oportunidades, Manuel Araújo sempre expressou o quanto foi significativa e importante para ele a experiência vivenciada no (3º) Terceiro Cartório. Foi lá que teve o privilégio de trabalhar com Bartolomeu, Armando, Maria Fagundes, Jaime Lambert, João Barbosa dos Santos, Fernando de Carvalho, Cel. Francisco Carvalho, excelentes servidores da Justiça. Teve também o convívio com ilustres desembargadores, juízes, advogados e membros do Ministério Público, como Oscar Siqueira, Odilon Coelho, Emídio Cardoso, José Vieira, Zacarias Cunha, Epitácio Fagundes, Amauri Fernandes, Carlos Augusto Caldas da Silva, Murilo Aranha, Arnaldo Gomes Neto, Amaro de Souza Marinho, Francisco Nogueira Fernandes, Aderson Lisboa, José Nicodemos da Silveira Martins, Claudionor de Andrade, Raimundo Nonato de Fernandes, Jorge da Cunha Lima, José Idelfonso Emerenciano, este, o maior incentivador para a sua opção pelo curso de direito .

Armando Fagundes, ex titular do (3º) Terceiro Cartório Civil onde trabalhava, foi igualmente outro incentivador para a sua carreira na área jurídica, além do grande colaborador, fornecendo-lhe todas as passagens de avião para seu deslocamento à cidade de Maceió, durante todo o período do curso, custeando algumas despesas com hospedagem e alimentação.

Colou grau na aludida Faculdade de Direito do no dia oito de dezembro de mil novecentos e cinquenta e seis (08/12/1956) em solenidade de formatura com a presença do presidente da República.

Mesmo sendo ainda estudante, exerceu a função de Adjunto de Promotor de Justiça na comarca de Jardim do Seridó em mil novecentos e cinquenta e seis (1956). Concluídos seus estudos, foi nomeado Juiz Municipal do Terno de Jardim de Piranhas, respondendo pela comarca de Caicó em mil novecentos e cinquenta e sete (1957. No mesmo ano, a vinte e seis de novembro (26), após aprovação em concurso público, foi nomeado Juiz de Direito da comarca de Florânia, sendo removido dois anos ( 2 ) depois, em mil novecentos e cinquenta e nove (1959) por permuta, para a comarca de Jardim do Seridó. Em vinte e nove de dezembro de mil novecentos e sessenta e quatro (29/12/1964) foi promovido, pelo critério de merecimento, para a comarca de Macau de (3ª) terceira instância, onde permaneceu por período inferior a um mês (1), sendo removido, a pedido, para a comarca de Caicó, primeira (1ª) Vara em trinta de janeiro de mil novecentos e sessenta e cinco (30/01/1965) A trinta de setembro de mil novecentos e sessenta e seis (30/09/1966) foi removido, a pedido, para a comarca de Natal, (4ª) quarta Vara Cível, lá permanecendo até dia vinte e um de outubro de mil novecentos e setenta (21/10/1970) quando foi removido também a pedido, para a Vara de Menores na capital então recentemente criada. No exercício das funções desta Vara permaneceu quase nove (9) anos quando foi promovido, por merecimento, ao cargo de Desembargador do Tribunal de Justiça do nos Estado.

No Tribunal de Justiça, o desembargador Manoel de Araújo, além de integrar a Cãmara Cível e o Tribunal Pleno, ocupou os seguintes cargos; 1- Vice-Presidente em mil novecentos e oitenta e quatro e mil novecentos e noventa e um (1984 e 1991) 2- Presidente em mil novecentos e oitenta e seis (1986) 3- Diretor da Escola Superior de Magistratura do Rio Grande do Norte - ESMARN em mil novecentos e oitenta e nove e em mil novecentos e noventa e dois (1989 e em 1992)

Serviu no Tribunal Regional Eleitoral TRE como Juiz por dois (2) biênios, mil novecentos a setenta e mil novecentos e setenta e quatro (1970 a 1974) e como Desembargador de mil novecentos e oitenta e dois a mil novecentos e oitenta e quatro (1982 - 1984) onde exerceu as funções de Corregedor Eleitoral, Vice-Presidente e Presidente.

Aposentou-se, a pedido, em trinta de junho de mil novecentos e noventa e nove (30/06/1999)

TEXTO DIGITADO POR

ARTMAZE

NATAL RN

22.08.24

Artmaze
Enviado por Artmaze em 22/08/2024
Reeditado em 25/08/2024
Código do texto: T8134586
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