1190-CAMOMILA - Autobiográfico

CAMOMILA

A Camomila, planta medicinal de excelentes resultados como calmante. Indispensável no armário de ervas e folhas secas, sementes e lascas de madeira medicinais, a camomila era usada intensamente, como chá, por mulheres grávidas, dada aos bêbês recém nascidos e para acalmar os nervos de pessoas agitadas, convalescentes de qualquer docença;enfim, era o calmante universal

Pelos anos de 1940, 41 e 42, tempos diíceis da 2ª. Guerra mundial, Tio Gordo ainda mantinha as 4 portas abertas de sua loja de secos e molhados em São Sebastião do Paraiso. Por secos e molhados entendia-se o comério de balcão de praticamente todas as mercadorias necessárias á vida simples de então. Generos alimentícios a granel - arroz, feijão, fubá, polvilho, farinha de trigo, de milho e de mandioca, café em grão, açucas, sal, tudo pesado aos quilos e meio-quilos na balança de pratos. Tecidos, ferragens (enxadas, ferramentas para a lavoura), material escolar, bebidas (só em garrafas fechadas, nada era servido no balcão: vinhos, cachaça, fernete, vermoutes, conhaque, licores). Doces feitos em casa por minha mãe e minha Madrinha (tia Carolina). Chocolates embrulhados em papeis coloridos e brilhantes, pirulitos, balas. E uma grande parte sob o balcão, telada na parte da frente, com bananas, que eram vendidas a 400 réis a dúzia.

Em 1942 tinha eu 7 anos de idade e Tio Gordo (meu tio-avô, irmão de vovó Beatriz) mantinha, na sua loja, grandes caixas de papelão com pequenos feixes de camomila, secas e enroladas de tal forma a fazer um pequeno volume, do tamanho de um pãozinho dito francês, que vendia a 200 réis cada. Era uma “mercadoria” que só exisia na sua loja, nem a farmácia Brigagão tinha tal remédio.

Ora, se não era comercial, como é que ele obtinha essa mercadoria exclusiva, a Camomila ?

Ele mesmo a produzia.

Na grande horta cuidada por papai no quintal de nossa casa, havia local reservado, um canteiro que só Tio Gordo usava para semear, nas épocas próprias, a finíssima semente, quase um pó, de Camomila. Duas vezes por ano ele mesmo afofava a terra, misturava o esterco com bastante matéria orgânica, regava abundantemente e semeava. Fazia tudo sozinho, não gostava da ajuda de ninguêm. Cobria o canteiro com folhas secas de coqueiro indaiá, paramanter aumidade. Regava diariamente ate que surgiam as plantinhas. As regas então eram mais espaçadas, duas ou três vezes por semana.

Dois meses, depois, o canteiro estava todo amarelo, pintado pelas pequenas flores da camomila. Era o tempo da colheita: Tio Gordo arregaçava as mangas (usava sempre camisas brancas de mangas compridas) e nas tardes de pouco movimento na loja, em que Madrinha tomava conta fazendo crochê, ele arrancava os pés da Camomila, estendia-os ao sol para que secassem. Quando quase secas, cortava as raízes, e separava 3 ou 4 pés, os quais dobrava diversas vezes, dando a forma de um pequeno pão francês, amarrando com os próprios galhos finos da planta, ainda flexíveis.

Guardava a camomila assim preparada em grandes caixas redondas, usadas anteriormente para guardar chapéus, vedidos também na loja.

Vendia os amarrdinhos de camomila “a preço de banana”, isto é, muito barato. E quando era pedida por pessoas pobres, Tio Gordo - exercendo, assim, uma atividade que posso chamar de caridade terapêutica - dava de graça a quem pedisse, um pequebo feixe de CAMOMILA.

ANTONIO ROQUE GOBBO

Condominio “Quintas da Lagoa”, Lagoa Santa (MG) – 1º. De junho de 2024

Conto / crônica # 1190 – da Série INFINITAS HISTÓRIAS - “Palavras”

547 palavras

Antonio Roque Gobbo
Enviado por Antonio Roque Gobbo em 29/06/2024
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