VIAJA COMIGO?

Nos anos 70, no auge da ditadura, os atores se drogavam muito, eu não, acho que era a única que parecia hiper, que não fazia sexo e não me drogava, na verdade cheguei a beber alguma coisa, fumar uns cigarros que na época era o máximo! Nas novelas, minhas primas mais velhas, minha mãe, meu pai, todos fumavam e eu resolvi aderir com meus dezesseis anos mais ou menos , mas só os de filtro branco e com piteira, eu me sentia o máximo! Até que um dia descobri que aqueles cigarros matavam, foi numa feira de ciências na minha escola, Escola Estadual Vicentina Goulart, nossa há quantos anos não escrevo esse nome! Tenho um passado cheio de emoções ligados a essa escola no interior de Nova Iguaçu, mais precisamente em Miguel Couto, que é um lugar meio perdido no tempo, entre morros, com uma praça, um clube e o caminho de uma antiga linha de trem, besse lugar cresci, estudei, aprendi literatura, com minha amiga Rose, conheci as músicas dis Meninos de Deus, Gibran Khalil Gibran, As poesias e músicas do Padre Zezinho, eu fui feliz! Nem me dava conta que vivíamos numa ditadura, mas voltando a história da viagem,os atores do teatro Arcádia, quando queriam contar alguma coisa legal e queria que o ouvinte embarcasse na ideia, dizia "VIAJA COMIGO" e contava seus projetos, guardei isso por toda minha vida, então quando quero fazer algo legal eu conto e no meu íntimo espero que as pessoas viagem comigo, que curtam a ideia e a ajude acontecer, quando isso não ocorre, eu BROXO, desisto mesmo, porque apesar de conseguir fazer quase tudo sozinha, as vezes gosto de fazer coisas em grupo, de dividir projetos, de saber a opinião dos outros, essa viagem coletiva, pra mim é maravilhosa! Não precisa nem acontecer de verdade, só de falar, imaginar, já valeu, mas as pessoas na sua maioria, nem fazem ideia disso e simplesmente ignoram. Isso me deixa puta. Porque eu não faço isso com quase ninguém, sempre reajo, mesmo que seja pra dizer não gosto disso, não participarei, por exemplo: odeio comemorar aniversário em restaurante ou bar, já fui alguns e em uns até me permiti cantar, mas forçando uma barra, agora eu não vou mais, mas a moda atual é essa, se a pessoa comemora, num outro lugar onde possamos ser felizes fazendo coisas, como circular, conversar, cantar... aí eu curto muito.

Durante muitos anos trabalhei em festas infantis, animando, então já fui na casa do Chico Anisio, que na época era no alto da Boa Bosta, Estrada da Gávea Pequena, não esqueço, foi a festa de um ano do Bruno Mazeo, o tema eram os personagens do pai, foi a beira da piscina, animei também a festa do Duda Nagre, que menino fofo! Me deu uma flor, eu era a Chapeuzinho, na casa dos Marinhos, ajudei a animar para os netos deles, as mais extravagantes eram para a filha do Anizio Abraão da Beja Flor, tinham muitos personagens e eram grandiosas, participei de várias, as mais chiques, na minha opinião, foram no Le Bifê e no salão do Meridien, durante muitos anos, festa pra mim era trabalho, então o cheiro de frituras, os doces, deixaram de me agradar, pois podia comer tudo isso todo final de semana, enjoei, ia nas festas e só queria água, muitas delas não tinha, ofereciam refrigerantes, eu não gostava, insistia na água.

Até hoje festa pra mim, é como pão para padeiro, não tem graça, a não ser que tenha algo legal para fazer, ficar sentada comendo, bebendo e jogando conversa fora, pra mim não acho bom.

Por isso comemorei poucos aniversários, meu e do meu filho, o primeiro aniversário dele, foi extravagante, a madrinha dele fez uma festa para quatrocentas pessoas, com tudo que tinha direito, animação, bufê e filmagem, odiei! O menino ate se assustou num local tão cheio, ele so queria mamar e dormir cedo, a festa durou uma eternidade, no segundo ano foi parecida, do terceiro em diante eu falei chega! Agora eu vou fazer as festas do meu filho, e passei a fazer um bolinho com brigadeiros na escola com os colegas da turma.

Estou falando isso porque as pessoas não entendem porque não curto festa, e me acham meio maluca.

Eu não me esqueço da minha primeira gravidez, eu morava sozinha de vaga nas casas alheias, tinha que ter o dinheiro no fim do mês para pagar, então eu comecei a sangrar, era o primeiro mês de gestação, lá fui eu animar uma festa de aniversário, abortando naturalmente, eu estava vestida de palhaço, com um sorriso no rosto pintado, alegrando as crianças e perdendo a minha criança, desse dia em diante, resolvi que não ia mais viver de pintar a cara, no ano seguinte me casei e tive meu único filho.

Então as festas de aniversários não foram um mar de rosas pra mim.

Mas ainda acho que sejam importantes, as minhas sempre foram diferentes, ou num parque, ou com poucos amigos queridos. Uma viagem como aquelas do teatro Arcádia.