Como alguém torna-se aquilo que é
“Isso de querer ser exatamente aquilo que se é, ainda vai nos levar além” - Paulo Leminski
Hoje, vou abordar um tema que aprecio muito: eu mesmo, rs. Brincadeiras à parte, este texto não se propõe a ser uma viagem egocêntrica, como a de Nietzsche em “Ecce Homo”. Pelo contrário, quero explorar o que não sou. É irônico porque meu objetivo é compartilhar isso com uma das pessoas que, de maneiras diretas e indiretas, me conhece melhor nesta face da terra, considerando tudo o que já compartilhamos, etc.
Por exemplo, acredito que a pessoa que amo me enxerga como alguém diferentão. No entanto, não me vejo assim. Ao contrário, sou uma figura simples e comum, talvez um pouco como Hans Castorp em “A Montanha Mágica”. Gosto dessa comparação porque, se você observar o livro, ele não se destaca por sua faculdade intelectual ou inteligência, mas ainda assim vive uma grande história. Se ele tinha alguma virtude, era sua curiosidade em aprender, bom gosto e espirituosidade. No geral, Thomas Mann o descreve como sendo singelo e banal. Da mesma forma, eu, que não sou particularmente inteligente nem possuo grandes talentos ou facilidade de aprendizagem, sou curioso e aprecio cultura apenas. Em termos de personalidade, meus amigos brincavam comigo, dizendo que um dia eu seria descolado, o que dá uma dimensão de certa inadequação e, talvez, autenticidade. Na verdade, sou uma pessoa com hábitos pacatos e idílicos.
Nesse aspecto, assemelho-me bastante à pessoa que amo. Certa vez, eu tinha um slogan de brincadeira: “Nerd não, intelectual, por favor…”, revelando uma intenção de não parecer nerd, algo que nunca fui e não me considero.
É bom esclarecer que nunca fui uma pessoa precoce em conhecimento cultural, ao contrário da pessoa que amo. Meu gosto foi se sofisticando gradualmente. Sempre gostei de ler, mas inicialmente limitava-me à revista Superinteressante, da qual era assinante, e a livros infantojuvenis. Li praticamente todos do gênero, como “Eragon”, a saga da “Bússola Mágica” (um grande livro, aliás, com uma temática bem adulta), “Percy Jackson”, “Harry Potter”, “Senhor dos Anéis” e, meu predileto, o genial “Guia do Mochileiro das Galáxias” - Confesso que os outros, hoje em dia, não leria.
Na sofisticação do meu gosto, o cinema exerceu um papel fundamental, pois foi através dele que conheci grandes obras da literatura e da cultura em geral. A música também teve influência, já que, por influência do meu irmão, sempre escutei músicas fora do mainstream, levando essa ética para a escolha de filmes. Inicialmente, assistia a filmes considerados cult, mas bem conhecidos, como “O Poderoso Chefão”, “Pulp Fiction”, “A Lista de Schindler” e filmes de Woody Allen. Posteriormente, meu interesse se voltou para um cinema mais sofisticado, europeu, russo, alemão, italiano, francês, sueco. Tornei-me cinéfilo, interessando-me por cinema independente de diretores como Todd Solondz, Harmony Korine, Larry Clark, John Cassavetes, Jim Jarmusch, entre outros. Frequentava bastante o cinema, chegando a assistir até três filmes em um dia na época boa. Participava de eventos de cinema em São Paulo, como a Mostra Internacional de Cinema, e era grande freqüentador do cineclub Cine Sesc, Reserva Cultural e Cine Belas Artes, em sp.
Confesso que atualmente estou desatualizado sobre os lançamentos e não assisto tantos filmes quanto antes. Tenho alguns gravados exibidos no Telecine Cult, mas ainda não assisti. Talvez tenha cansado de assisti-los sozinho. Enfim, após assistir tantos bons filmes, deparei-me com citações de livros, grandes clássicos da literatura, e comecei a procurá-los para ler. Também, por causa dos livros, tomei conhecimento de filosofia. Estudava sozinho, através de aulas online que encontrava e cafés filosóficos. Acabei lendo grandes clássicos da filosofia e sociologia e adquirindo gosto pela disciplina. Acredito que seja uma disciplina para a vida, que complementa todas as outras. Ainda leio bastante; no último ano, li um total de 60 livros, mas desde então não peguei mais em nenhum livro. Atualmente, prefiro leituras mais leves, como crônicas e contos. Estou numa fase em que não ando lendo muitos clássicos ou filosofia, enfim. Estou me levando menos a sério do que nunca. Passo meu tempo assistindo ao MasterChef no YouTube (melhor programa de TV aberta), Shark Tank e gameplays, além de vídeos de curiosidades sobre videogames. Além de acompanhar o futebol nacional e internacional (grande paixão), nba e futebol americano. Olha como sou banal. Com isso, espero ter sido bem-sucedido em proporcionar uma visão geral de quem sou (ou não sou) para a pessoa que amo, mostrando como sou comum, mas, apesar de tudo, muito carinhoso. Espero que não me rejeite mais ainda, com isso.
Ah, meu livro preferido é “Os Irmãos Karamazov”, e meu filme favorito é “Era uma Vez na América”. Surpresa?